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Igreja Adventista Realiza Evento Inédito Sobre Liberdade Religiosa em Cabo Verde

O fórum reuniu especialistas, líderes religiosos e autoridades para promover a liberdade de crença, culto e religião.

Cabo Verde

Guilherme Lima, Divisão Sul-Americana, e ANN
Mesa de abertura do evento (da esquerda para a direita): Imã Sekou Souaré (Associação Islâmica Dawah de Cabo Verde), Pr. Natalino Martins (Presidente da Associação), Pr. David Njock (Presidente da União), Pr. Roseveltt Teixeira (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), Reverendo Pr. David Araújo (Igreja Nazarena) e Dr. Samora Monteiro, Diretor do Departamento de Liberdade Religiosa.

Mesa de abertura do evento (da esquerda para a direita): Imã Sekou Souaré (Associação Islâmica Dawah de Cabo Verde), Pr. Natalino Martins (Presidente da Associação), Pr. David Njock (Presidente da União), Pr. Roseveltt Teixeira (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), Reverendo Pr. David Araújo (Igreja Nazarena) e Dr. Samora Monteiro, Diretor do Departamento de Liberdade Religiosa.

[Foto: Divisão Sul-Americana]

Nos dias 24 e 25 de maio de 2025, a capital cabo-verdiana, Cidade da Praia, foi palco de um evento histórico: o I Fórum Cabo-verdiano de Liberdade Religiosa (FELIR 2025). Organizado pelo Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia em Cabo Verde (AIASD-CV), o evento foi realizado no Salão Nobre do Parlamento, enquadrado nas celebrações dos 50 anos da Independência nacional e dos 90 anos da chegada do Adventismo ao país.

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Pluralidade e Elevada Participação Marcaram o Evento

A matriz religiosa em Cabo Verde é predominantemente cristã. Segundo os dados nacionais mais recentes, de 2021, 72,5% da população residente com idade igual ou superior a 15 anos identifica-se com o catolicismo, seguida pelos Adventistas do Sétimo Dia, que representam 1,9% dos residentes. Outras comunidades religiosas, incluindo fiéis da Igreja do Nazareno, Muçulmanos, Assembleia de Deus e Espiritualistas, também estão presentes, refletindo a diversidade religiosa no arquipélago.

Essa realidade ficou evidente no fórum, que se destacou pelo caráter plural e laico, proporcionando um espaço de diálogo aberto e inclusivo. O evento contou com a presença de autoridades do Estado, juristas, representantes da sociedade civil, especialistas nacionais e internacionais, além de organismos dedicados à promoção dos direitos humanos.

Garantindo Direitos e Promovendo Tolerância

A cerimônia de abertura, realizada no dia 24 de maio, foi abrilhantada pelo Presidente da República, Dr. José Maria Neves, que ressaltou o compromisso de Cabo Verde com a paz e a tolerância religiosa, apelando para que eventuais constrangimentos ou equívocos na aplicação da lei sejam superados rapidamente.

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Os painelistas abordaram temas cruciais sob diversas perspectivas, como garantias constitucionais, a relação entre religião e política em Cabo Verde, avanços e desafios para a liberdade religiosa, sobretudo no que tange à participação dos adventistas em concursos públicos e em contextos laborais.

Entre os painelistas que marcaram presença no evento, destacaram-se o Dr. Aristides Lima, um dos três Juízes Conselheiros do Tribunal Constitucional, a mais alta corte do país; o Dr. Adilson Semedo, pesquisador da Universidade de Cabo Verde; a Dra. Eurídice Mascarenhas, Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos e Cidadania; e o Dr. Felisberto Moreira, Presidente da Rede Nacional de Direitos Humanos. Também participaram convidados internacionais: a advogada adventista Dra. Damaris Moura, autora da primeira lei de liberdade religiosa no Brasil, e o Dr. Fábio Nascimento, Presidente da Aliança Lusófona pela Liberdade Religiosa.

Testemunho do Pastor Antonio Monteiro dos Anjos

Um dos momentos mais emocionantes do fórum foi o testemunho do pastor cabo-verdiano António Monteiro dos Anjos, que relatou a sua experiência de prisão no Togo. Em 2012, Monteiro foi detido sob acusações infundadas de envolvimento em uma rede de tráfico de sangue e órgãos humanos. Apesar da ausência de provas concretas, permaneceu preso por 22 meses na Prisão Civil de Lomé. Durante esse período, a comunidade adventista global e autoridades mobilizaram-se em sua defesa, promovendo vigílias de oração, campanhas de mídia social e petições internacionais. Em 13 de janeiro de 2014, o Tribunal de Apelações do Togo declarou sua inocência e ordenou sua libertação.

O caso de Monteiro tornou-se emblemático na luta pela liberdade religiosa e pelos direitos humanos, evidenciando os riscos enfrentados por líderes religiosos em contextos de intolerância e injustiça. Seu relato no fórum reforçou a importância de garantir a liberdade de crença e a proteção dos direitos fundamentais em todas as sociedades.

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Apelo pelo Respeito e Garantia Constitucional

No seu discurso de abertura, o presidente da Igreja Adventista em Cabo Verde, Pr. Natalino Martins, ressaltou a liberdade religiosa como um direito natural e inalienável, fundamentado biblicamente no livre-arbítrio concedido por Deus, que permite a cada pessoa escolher sua fé sem coerção. Ele relembrou a atuação histórica da Igreja na defesa desse direito desde os seus primórdios, destacando figuras proeminentes como Ellen White e o pastor Alonzo T. Jones, um dos fundadores da Associação Internacional de Liberdade Religiosa (IRLA), a organização mais antiga do mundo dedicada exclusivamente à promoção da liberdade religiosa para todas as pessoas, independentemente de sua crença.

Além disso, reconheceu e agradeceu ao Estado de Cabo Verde, na pessoa do Presidente da República, à Constituição da República e à Lei nº 64/VIII/2014, que estabelece o regime jurídico da liberdade de religião e de culto no país. Também destacou especialmente o artigo 49º da Constituição, que garante o respeito à liberdade religiosa. Contudo, alertou para desafios atuais, como a falta de medidas alternativas para adventistas que não podem participar de provas aos sábados.

“Reafirmo o nosso compromisso de continuar a trabalhar lado a lado com o Estado, com outras confissões religiosas e com a sociedade civil, para que a liberdade religiosa não seja apenas uma norma escrita na lei de Deus e dos homens, mas uma realidade vivida - com respeito e fé”.

Já o presidente da UMOS, Pr. David Njock, no encerramento do Fórum, fez um forte apelo para “um olhar de graça além das nossas diferenças religiosas”, enfatizando que a diversidade religiosa deve ser vista como uma oportunidade de crescimento mútuo. Ele alertou, entretanto, que a tolerância religiosa não pode ser confundida com a aceitação de práticas que atentem contra a dignidade humana, como a violência e outras formas de abuso.

Um Compromisso Adventista com a Liberdade Religiosa

Segundo um dos membros da Comissão Organizadora do Fórum e promotor da Associação Cabo-verdiana pela Liberdade Religiosa, o professor Milton Monteiro, cabo-verdiano radicado no Brasil: “Este evento representa um marco histórico em Cabo Verde e reafirma o compromisso dos adventistas com o respeito à dignidade humana, aos direitos humanos e à liberdade religiosa”.

Brevemente será assinada, em outro encontro solene, a “Declaração da Praia em prol da Liberdade Religiosa", acompanhada de protocolos e parcerias que visam fortalecer a cooperação entre instituições, organizações religiosas e o Estado. Para ações futuras, ficou ainda proposto, pelos juristas e acadêmicos adventistas, estudar e elaborar uma proposta de lei para a criação de um Dia Nacional da Liberdade Religiosa, sob a promoção da ACLIR. Na ocasião, também foi lançado o site oficial: www.liberdadereligiosa.cv.

A versão original deste artigo foi publicada no site de notícias da Divisão Sul-Americana em português. Entre no canal da ANN no WhatsApp para acompanhar as últimas notícias da Igreja Adventista.

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