Em muitas comunidades ribeirinhas, os acidentes com motores de barco resultam em perdas traumáticas do do cabelo e do couro cabeludo. De acordo com dados da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, nos últimos anos foram registrados 207 casos de escalpelamentos em 41 municípios do estado.
Os acidentes de escalpelamento afetam predominantemente mulheres que residem às margens dos rios e furos de rios da Amazônia paraense, causando impactos profundos em suas vidas e comunidades.
Os alunos da Rede Adventista de Educação da cidade de Ananindeua, no Pará, estão fazendo a diferença com o Projeto Fios de Ouro, uma iniciativa que busca arrecadar cabelos para vítimas de escalpelamento. Este gesto demonstra o compromisso e a compaixão de alunos, professores e funcionários em ajudar a comunidade. Os estudantes mostram que a solidariedade não tem idade.
Para Vivian de Nazaré, aluna da Rede Educacional Adventista, a solidariedade traz benefícios a outros. "Se fosse eu que tivesse sido escalpelada, eu queria que doassem para mim. Eu ficaria muito feliz. E quero fazer a diferença na vida dos outros", afirma Vivian.
Segundo a coordenadora do Projeto Fios de Ouro, Mônica Yamaoka, é gratificante ver inúmeras pessoas contribuindo. "Os alunos estão abraçando a causa. Muitos pais estão vindo doar cabelo. Estamos vivenciando a solidariedade e a empatia, o que é emocionante", destaca.
Durante todo o dia 29 de maio, mais de 70 doações de cabelos naturais foram arrecadadas pela comunidade escolar.
Tratamento e Apoio às Vítimas
Desde 2005, a Fundação Santa Casa é referência no atendimento às vítimas de acidentes de escalpelamento com motores de barcos, tendo criado o Programa de Atenção Integral às Vítimas de Acidentes com Escalpelamento. A instituição também conta com o Espaço Acolher, que dá suporte às vítimas durante o tratamento ambulatorial quando não possuem casa de apoio ou familiar em Belém. O espaço também garante o atendimento às vítimas por meio do Serviço Social, da Psicologia, de uma equipe administrativa da Santa Casa e de educadores da Secretaria de Educação do Pará e da Universidade do Estado do Pará (UEPA), que em regime de convênio atua na Classe Hospitalar.
De acordo com Jureuda Duarte, psicóloga do Espaço Acolher, a doação de cabelo ajuda a restaurar a autoestima de quem recebe, sendo também um símbolo de esperança e apoio. "Ações como essa da Escola Adventista são fantásticas. Promovem direitos humanos, promovem a compaixão, a empatia e vão formando o caráter da nossa juventude, para que entenda que precisa se doar, precisa ter compaixão", ressalta ela.
Para Ana Alice Maia, uma das vítimas de escalpelamento, ações como essa são extremamente importantes. "Eu sofri o acidente quando tinha apenas 12 anos. Perder o cabelo é uma situação muito difícil de se enfrentar. A doação de cabelo é muito importante para as vítimas. Ver uma doação de cabelo nessa proporção, com crianças doando, mulheres doando, me deixa muito feliz e eu sou imensamente grata porque é um ato de amor", frisa.
A versão original deste artigo foi publicada pelo site de notícias da Divisão Sul-Americana em português.