Posse histórica preserva a tradição da oração

Posse histórica preserva a tradição da oração

Capelão do Senado dos EUA fala sobre espiritualidade dos líderes nacionais; um privilégio adventista

Oficiais governamentais e cidadãos dos EUA que se reuniram no Capitólio de Washington hoje para a posse do presidente-eleito Barack Obama celebrarão muitos eventos inéditos, mas também se aterão a uma estrutura de mais de 200 anos, reforçada por tais tradições como a oração da posse, declara o capelão do Senado dos EUA, Pr. Barry C. Black.

 

Uma oração não é algo a que se aplique uma caneta vermelha, ele diz. Diferentemente de discursos, as orações não representam “outro ato do drama”, declara Black, um adventista do sétimo dia e ex-capelão da Marinha dos EUA. Antes, as orações devem ser fonte de reflexão e de profunda sinceridade. “Eu  me preocuparia muito se alguém  ou alguma comissão ficasse a fiscalizar o que alguém tem se sentido compelido a ardorosamente dizer a Deus em favor do povo para uma ocasião em particular”, declara Black.

 

Black, que irá proferir a invocação para a tradicional ceia que se seguirá imediatamente à posse de hoje, declara que na Colina do Capitólio já o ouviram orar muitas vezes—ele abre cada sessão do Senado com uma oração—e podem estar seguros de que não dirá algo “que se oriente no rumo da esquerda”.

 

Ademais, diz Black, o processo de escolha para um capelão, no caso de Rick Warren e Joseph Lowry—ambos designados para oferecer orações durante a cerimônia de posse hoje—é suficientemente rigorosa de modo a ter-se confiança de que o indivíduo oferecerá uma oração apropriada.

 

Black declara que alguns poderiam alegar que uma oração durante eventos estatais, como posses, é pouco mais do que uma formalidade ou tradição—George Washington deu início à primeira de tais orações após ter feito juramento ante um capelão que empregou o Livro de Oração Comum. Outros têm chegado a argumentar que uma oração de posse governamental é inconstitucional e viola a separação de Estado e Igreja.

 

Contudo, Black declara que a necessidade de oração pelo país é tão crucial quanto sempre. “Os fundadores da nação, a despeito de sua preocupação em manter Igreja e Estado separados, reconheciam a necessidade de uma dimensão espiritual do governo”. O próprio cargo de Black foi estabelecido em 1789, por sugestão de pioneiros nacionais como Benjamin Franklin, a quem se dá crédito de ter dito ser “altamente improvável” que uma nação se erga sem a assistência de Deus, quando “um pardal não pode cair sem chamar-Lhe a atenção”.

 

O posto de capelão do Senado prosseguiu como uma tradição estabelecida durante o primeiro Congresso Continental em 1774. Hoje, os deveres do capelão incluem propiciar assistência espiritual e aconselhamento a senadores, suas famílias e seus funcionários, bem como abrir a sessão de cada dia com oração.

 

O reconhecimento da direção divina no levantamento e queda de nações ainda ressoa nos gabinetes do Congresso dos EUA hoje, diz Black.

 

“Creio que o que Paulo diz em Filipenses 4—‘os santos da casa de César’—poderia ser dito de muitos que atuam na Colina do Capitólio”, declara Black, acrescentando que 35 dentre 100 senadores—de ambos os partidos—regularmente frequentam desjejuns semanais de oração e estudos bíblicos. Entre os que compareciam a tais reuniões estão o Pres. Obama e o vice-presidente Joseph Biden, sendo ambos, diz Black, “indivíduos muito espirituais”.

 

O ex-chefe dos capelães da Marinha diz que tem tido a oportunidade de interagir numa base regular com Obama, a quem considera um amigo. O então senador por Illinois concedeu um endosso na contracapa do livro de Black lançado em 2006, “From the Hood to the Hill”.

 

Trabalhar na Colina do Capitólio, no processo legislativo “de natureza particularmente séria e deliberativa” e o sentido de lidar nesse nível de responsabilidade pode ser estressante, deixando os senadores “espiritualmente vulneráveis”, comenta Black. “Seja qual for o nível de espiritualidade que traga ao trabalho, esse é dobrado, creio, ao descobrir uma intensa necessidade de alimentar essa ligação [com Deus]”.

 

Durante os seus anos como guia espiritual dos líderes nacionais, Black diz que tem observado a impossibilidade de separar completamente “a espiritualidade de um indivíduo da obra que ele ou ela realiza”. Certamente, acrescenta ele, em certas circunstâncias os Senadores devem votar contra suas convicções pessoais para o benefício de seus representados, mas “a espiritualidade que tantos de nossos legisladores possuem os permeia suficientemente ao ponto de impactar o seu julgamento, sua cosmovisão, e como se empenharão em tomar decisões”.

 

Black, cujo escritório dá vistas para o National Mall (parque central de Washington com seus múltiplos monumentos) declara que a paisagem “que inspira respeito” contribui para o “senso de admiração” que experimenta cada vez que adentra o Capitólio nacional..

 

“Tenho a oportunidade de interagir com algumas das pessoas mais brilhantes que conheço, e estão interessadas em minhas opiniões sobre as dimensões éticas de assuntos que estão debatendo no recinto do Senado. Esse privilégio—essa responsabilidade—é solene e muito, muito inspiradora”, conclui Black.