Ganoune Diop também fala sobre a necessidade cristã de tratar todas as pessoas com dignidade e respeito.
Ganoune Diop, o principal defensor da liberdade religiosa da Igreja Adventista do Sétimo Dia, falou a uma conferência de alto nível das Nações Unidas sobre os vários pontos de vista da sexualidade humana à luz dos ensinamentos da Bíblia e enfatizou que o imperativo cristão é tratar cada ser humano com dignidade e respeito.
Diop, diretor do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Igreja e secretário-geral da Associação Internacional de Liberdade Religiosa, fez um discurso no evento de três dias, intitulado “Liberdade de Religião ou Crença e Sexualidade: Uma Conversa”, no Palais des Nations, em Genebra, Suíça.
Ele explorou a relação entre a liberdade religiosa, os direitos humanos e a sexualidade após ser convidado por Heiner Bielefeldt, relator especial das Nações Unidas para a liberdade de religião e de crença, a fornecer uma visão acadêmica de atitudes religiosas para com a sexualidade humana, especialmente a partir da perspectiva das tradições cristãs .
Em seu discurso, Diop procurou explicar os ensinamentos e valores bíblicos que inspiram uma resposta cristã às relações do mesmo sexo.
“Os cristãos, em primeiro lugar, situam a sexualidade humana no contexto da criação, onde tudo foi declarado ‘bom’, mesmo ‘muito bom’“, Diop disse ao grupo diversificado de participantes na conferência de 8 a 10 de junho. “Mas, como apresenta a narrativa bíblica, o que o mundo tornou-se depois da alienação de Deus é outra história”.
Diop traçou a evolução histórica das várias crenças teológicas e tradicionais sobre a sexualidade humana dentro de várias comunhões cristãs, e a influência de normas culturais na formação de atitudes sobre o comportamento sexual apropriado.
Diop reviu os sete textos bíblicos historicamente entendidos como proibição de atos do mesmo sexo, e explicou as interpretações divergentes dadas a esses textos. Ele disse que a maioria dos cristãos— sejam católicos, ortodoxos, evangélicos protestantes, ou pentecostais—acreditam que estes textos são uma proibição divina de atos sexuais por pessoas do mesmo sexo. No entanto, também observou que um número crescente de cristãos desafiam essa interpretação, dando interpretações alternativas que sugerem, em sua opinião, que a Bíblia não aborda a questão da homossexualidade, como é conhecida hoje.
Diop também destacou o abismo cada vez maior entre a sociedade secular e organizações religiosas quando se trata de questões de sexualidade. Ele apontou a declarações oficiais por Igrejas cristãs históricas e tradicionais que endossam casamentos heterossexuais monogâmicos, que estão em forte contraste com a abordagem da sociedade secular civil e um número crescente de cristãos que apóiam o casamento, estilo de vida e prática homossexuais. A unanimidade sobre esta questão tem-se tornado mais e mais evasiva, disse ele.
Diop, um teólogo adventista e ex-professor de Teologia, Línguas Bíblicas e Religiões Comparadas, também disse aos participantes da conferência da ONU que “os próprios fundamentos da fé cristã são baseadas na liberdade inalienável de cada indivíduo escolher entrar num pacto de relacionamento com Deus”.
Esta liberdade, disse ele, significa que os cristãos devem ter o cuidado de não tentarem legislar suas crenças religiosas sobre a sexualidade, transformando valores religiosos em política pública que discrimina ou pune aqueles que rejeitam os ensinamentos religiosos específicos.
“Neste debate, Igrejas cristãs e pessoas de várias religiões ou crenças têm que ser claras sobre os parâmetros reais do debate”, disse Diop. “A decisão de legalizar ou criminalizar pertence aos tribunais judiciais e legisladores”.
Em entrevista após o evento, Diop apontou para a descrição de um dos fundadores da Igreja Adventista, Ellen White, da relação que Deus busca com os Seus seres criados em “Patriarcas e Profetas”, p. 34: “Deus deseja de todas as Suas criaturas o serviço de amor— serviço que brote de uma apreciação de Seu caráter. Ele não tem prazer na obediência forçada; a todos confere vontade livre para que Lhe possam prestar serviço voluntário”.
“Reconhecer a liberdade de escolha do indivíduo em matéria de sexualidade não equivale a um endosso, e não dilui o direito de um cristão falar com clareza moral sobre o ideal de Deus para as relações humanas”, acrescentou Diop.
Ele disse que os cristãos têm uma responsabilidade adicional baseada na crença judaico-cristã central de que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus. Essa responsabilidade, segundo ele, é reconhecer o selo do divino em cada pessoa e estender a eles o amor e o respeito que Cristo revelou em Seus relacionamentos, mesmo com a humanidade caída.
“O que isso significa para os cristãos de hoje, quando se trata de relacionar-se com aqueles que têm diferentes crenças sobre a sexualidade humana?”, Disse Diop. “Significa dizer ‘Não’ à discriminação ou a qualquer forma de violência. Isso significa uma demonstração de que as pessoas podem crer de forma diferente e ser diferentes, ao compartilhar a mesma humanidade; isso significa viver no espaço público comum com respeito pela dignidade de cada pessoa; significa reconhecer que a cada pessoa tem sido concedido o direito—e responsabilidade—da liberdade por seu Criador”.
Diop prosseguiu: “A nenhuma pessoa deve ser negada a sua humanidade, não importa como usam a sua liberdade de escolha. Deus deu aos seres humanos a prerrogativa de viver ou não viver de acordo com os padrões revelados por Deus. Violência, crimes de ódio, ou crimes induzidos por auto-ódio, como o caso terrível que o mundo testemunhou recentemente em Orlando, são totalmente repugnantes e bárbaros”.
Numa segunda apresentação para a conferência, Diop lembrou aos participantes que quando se fala em sexualidade humana, uma categoria mais ampla tem que ser levada em consideração. Ele sugeriu que a questão da sexualidade deve ser intencionalmente expandida para além do vocabulário do GLBT para incluir uma discussão de uma série de práticas sexuais—tanto legítimas e prejudiciais—e também a difícil situação das pessoas nascidas com genitálias anormais ou malformadas. Ele destacou as questões da mutilação genital feminina, os raptos de meninos e meninas para a prostituição, e a cultura macho alfa que significativamente danifica a percepção de auto-imagem saudável do sexo masculino. Ele também lembrou aos participantes da conferência a prática histórica da castração e mutilações sexuais de escravos negros do sexo masculino por árabes muçulmanos.
Indagado numa entrevista por que a Igreja participa de conferências da ONU como esta, Diop enfatizou o imenso valor de ter uma presença e voz adventista “à mesa” na comunidade internacional dos tomadores de decisão: pessoas de influência, que moldam as tendências e valores sociais.
“Claramente, a homossexualidade e identidade sexual estão polarizando tópicos em muitas nações hoje”, disse Diop. “As atitudes em relação à sexualidade estão fortemente entrelaçadas com a cultura, a tradição, assim como com as crenças religiosas”.
Ele observou que um amplo espectro de respostas legais para relações do mesmo sexo existe nos países da Organização das Nações Unidas. Vão desde o casamento do mesmo sexo e proteções civis nos Estados Unidos, África do Sul e vários outros países, em contraste com a proibição, discriminação e pura e simples criminalização em outros.
Contudo, apesar da sensibilidade e complexidade do tema, Diop acredita que os adventistas não devem ficar à margem do discurso público.
“Os adventistas do sétimo dia estão entre as Igrejas de destaque que entendem a ordem divina da criação de ser a união heterossexual de um homem e uma mulher no casamento monogâmico”, Diop continuou. “Essa crença é cuidadosamente articulada em declarações oficiais da Igreja, e continua a ser a sua posição adotada”.
“Como assinala a Sra. White, ‘reis, governadores e concílios’ devem ter um conhecimento da verdade através do nosso testemunho, pois ‘esta é a única maneira que o testemunho de luz e verdade pode atingir homens de grande autoridade’”, ressaltou Diop, citando um sermão de Ellen White intitulado “Eu Te Guardarei da Hora da Tentação”, que foi publicado na ‘Review and Herald’ em 15 de abril de 1890.
“O Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa está focado no engajamento do público para a missão”, disse Diop. “Seu objetivo é posicionar a Igreja para uma posição de credibilidade, relevância e confiança no domínio público sem comprometer os valores ou os ensinamentos da Igreja, expressos em declarações oficiais da denominação. Este é o objetivo que tem animado os assuntos públicos e as ações da liberdade religiosa da Igreja por mais de um século, e este ainda é o cerne do nosso trabalho hoje”.
Outros apresentadores da conferência da ONU incluiram Bielefeldt; Javaid Rehman, professor de lei islâmica e do direito internacional na Universidade de Brunel, em Londres; e Vitit Muntarbhorn, presidente da Comissão de Inquérito sobre a Síria da ONU e ex-relator especial da ONU sobre os direitos humanos na Coreia do Sul. No terceiro dia da conferência, Diop e três de seus co-apresentadores foram convidados a participar de um painel de discussão pública. Este painel, que foi destinado à comunidade mais ampla da ONU, foi moderado por Kate Gilmore, vice-Alto Comissário das Nações Unidas para os direitos humanos.