Iniciativa da Divisão Norte-Americana Inspira Participantes na Construção de Igrejas Mais Seguras

Os adventistas da Divisão Norte-Americana se uniram para fortalecer a proteção nas igrejas e oferecer apoio às vítimas e sobreviventes de abuso.

Estados Unidos

Christelle Agboka, Divisão Norte-Americana
Erica Smith, diretora associada dos Ministérios da Mulher da Divisão Norte-Americana, fala aos participantes durante a capacitação Salvaguardando a Paz da DNA.

Erica Smith, diretora associada dos Ministérios da Mulher da Divisão Norte-Americana, fala aos participantes durante a capacitação Salvaguardando a Paz da DNA.

[Foto: Pieter Damsteegt/DNA]

De 9 a 11 de fevereiro de 2025, um pequeno, porém dedicado grupo de líderes locais e membros leigos se reuniu na sede da Divisão Norte-Americana (DNA), em Columbia, Maryland, Estados Unidos, para participar da capacitação enditnow® Salvaguardando a Paz da DNA, focada na prevenção e resposta ao abuso. Por meio de apresentações, discussões em dupla e em grupo, além de exercícios práticos, os participantes receberam ferramentas para ajudar a tornar as igrejas ambientes mais seguros.

Em seu discurso de boas-vindas, G. Alexander Bryant, presidente da DNA, refletiu: “Jesus relacionou o Evangelho com o cuidado aos vulneráveis... com o compromisso de proteger aqueles que não podem se defender sozinhos, os que sofrem abusos físicos, emocionais e mentais.”

Bryant elogiou os participantes e agradeceu à organizadora principal, Erica Smith, diretora associada do Ministério da Mulher da DNA, e à diretora do Ministério da Mulher da DNA, DeeAnn Bragaw, por “levarem adiante, praticamente sozinhas, a iniciativa enditnow® em nossa igreja e divisão.”

Mais tarde, Bragaw fez referência a Isaías 3, onde Jerusalém e Judá lutavam para encontrar um líder que enfrentasse a injustiça. No versículo 7, um homem se recusa, dizendo: “Não serei um líder. E não serei um médico.” Bragaw destacou que “líderes são médicos”, apontando para Jesus como o médico supremo, que nos capacita com o que precisamos para seguir seu exemplo.

Reflexões e Direcionamentos

A capacitação teve como base o manual Salvaguardando a Paz, desenvolvido por profissionais especializados na área de proteção, líderes eclesiásticos e educadores. Esta foi a terceira capacitação desde que a equipe enditnow® da DNA passou das reuniões transmitidas ao vivo para workshops presenciais, a partir de 2023.

Entre os palestrantes estavam Erica Smith; Doug Tilstra, vice-presidente aposentado de vida estudantil da Universidade de Walla Walla; Rene Drumm, professora titular de pesquisa em sociologia na Universidade Andrews; seu esposo, Stanley Stevenson, terapeuta licenciado; Melissa Ponce-Rodas, professora adjunta de psicologia e vice-reitora da Faculdade de Ciências Sociais e do Comportamento da Universidade Andrews; Shannon Trecartin, diretora do programa de mestrado em Serviço Social e professora associada da Universidade Andrews; e Tracey Ray, diretora executiva da Safe Haven of Pender, na Carolina do Norte.

A capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da Divisão Norte-Americana (DNA) foi enriquecida pela experiência de profissionais da área de defesa, líderes eclesiásticos e educadores.
A capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da Divisão Norte-Americana (DNA) foi enriquecida pela experiência de profissionais da área de defesa, líderes eclesiásticos e educadores.

As sessões abordaram diferentes aspectos da violência entre parceiros íntimos (IPV, na sigla em inglês), definida como “o comportamento dentro de um relacionamento íntimo que causa dano físico, sexual ou psicológico”.

Dados Impactantes Apresentados:

  • Cerca de 10 milhões de adultos nos EUA sofrem violência doméstica todos os anos.

  • 1 em cada 4 mulheres e 1 em cada 9 homens nos EUA enfrentam violência sexual ou física grave e/ou perseguição por parte de seus parceiros, com consequências para a saúde.

  • Três mulheres por dia são assassinadas por seus parceiros nos EUA.

Os palestrantes destacaram que a religião pode, às vezes, ser uma barreira na busca por segurança, junto com fatores culturais, emocionais e contextuais. Doug Tilstra abordou obstáculos específicos enfrentados por adventistas, enfatizando que: Efésios 5 defende a submissão mútua e voluntária; perdão e responsabilidade podem coexistir; embora Deus valorize o casamento, em um mundo caído, separação ou divórcio podem ser necessários para preservar a vida.

A professora Rene Drumm observou que, embora o abuso frequentemente leve ao afastamento espiritual, a fé também pode ser uma fonte poderosa de cura. “Podemos fortalecer nossa igreja ao fortalecer as vítimas-sobreviventes e sua espiritualidade”, afirmou.

Angelina Wood, especialista em gestão de riscos, compartilhou estatísticas chocantes: 1 em cada 4 meninas e 1 em cada 6 meninos são vítimas de abuso sexual; 25% das crianças sofrem abuso físico. Em mais de 90% dos casos, a criança conhece o abusador.

Wood também destacou a importância de acolher a criança com confiança, manter a calma diante da revelação e comunicar imediatamente o caso às autoridades competentes. “É de suma importância que nossas crianças tenham um refúgio seguro e saibam que podem se expressar quando estão feridas, com medo ou sendo maltratadas”, declarou.

A Religião Não Substitui a Vigilância e o Apoio

Histórias em primeira pessoa ilustraram duramente a realidade do abuso. Os participantes ouviram o relato de Karen, que sofreu abusos emocionais, físicos, sexuais e espirituais por parte de seu marido — alguém que conheceu em uma universidade adventista. Posteriormente, ela foi diagnosticada com câncer e enfrentou pensamentos suicidas.

O grupo refletiu sobre o que poderia tê-la ajudado e concluiu que uma cultura de apoio dentro da igreja poderia ter feito a diferença.

No fim, a história de Karen trouxe esperança. Deus a alcançou em um momento de desespero e ela encontrou coragem para sair da situação. Hoje, ela é uma defensora e afirma: “Seja qual for a razão pela qual fui abusada, Deus me ajudou a superar. E se for para contar minha história, é isso que vou fazer.”

A capacitação Salvaguardando a Paz da Divisão Norte-Americana (DNA) tem como base principal o manual Salvaguardando a Paz, disponível gratuitamente por meio da AdventSource.
A capacitação Salvaguardando a Paz da Divisão Norte-Americana (DNA) tem como base principal o manual Salvaguardando a Paz, disponível gratuitamente por meio da AdventSource.

Os palestrantes também compartilharam testemunhos de um estudo qualitativo com 40 mulheres adventistas que haviam sofrido violência doméstica, desmistificando a ideia de que o abuso é menos comum dentro da igreja. Mais de 90% dos agressores neste estudo eram membros da própria igreja — incluindo pastores, funcionários da denominação e líderes locais.

Esse estudo foi uma continuação de uma pesquisa realizada com 1.431 membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia na região do Noroeste do Pacífico dos Estados Unidos, que revelou índices de abuso comparáveis aos das estatísticas nacionais. No total, 33,8% dos membros relataram ter sofrido algum tipo de abuso, em comparação com uma média nacional de 22,1% a 37,6%.

“Ser adventista não é um fator de proteção contra o fato de alguém ser um agressor. Ser um abusador não tem relação com sua religião ou fé. Essa capacitação me ajudou a lembrar que estamos lidando com seres humanos — e todos temos o potencial de cometer atos terríveis”, afirmou Stanley Stevenson.

Da Teoria à Prática

Um segmento significativo do programa abordou avaliação, resposta e prevenção. Os participantes aprenderam três princípios fundamentais para oferecer apoio: acreditar na vítima, compartilhar sua dor e aliviá-la oferecendo recursos e apoio. Além disso, os participantes foram treinados para avaliar o nível de segurança e direcionar as vítimas para equipes especializadas em violência doméstica ou serviços de emergência.

Durante a capacitação, os participantes simularam diferentes situações atuando como defensores ou sobreviventes de abuso. Os instrutores também explicaram os diferentes níveis de prevenção:

  • Primária: esforços em todo o sistema para prevenir o abuso;

  • Secundária: detecção e intervenção precoce;

  • Terciária: mitigação das consequências a longo prazo.

A sessão terminou com uma visão geral dos recursos disponíveis na América do Norte, seguido pela criação de listas de recursos locais pelos participantes.

O programa foi encerrado com uma avaliação voluntária de habilidades no dia 11 de fevereiro, na qual todos os participantes foram aprovados. Os novos defensores certificados da iniciativa enditnow® assumiram as seguintes responsabilidades:

  • Estabelecer uma conexão com prestadores de serviços locais;

  • Manter e compartilhar um guia com recursos locais;

  • Participar de reuniões de acompanhamento via Zoom com a equipe do Salvaguardando a Paz;

  • Promover um dia de ênfase enditnow® em suas igrejas;

  • Estar preparados para acolher confidencialmente revelações de abuso.

Pela primeira vez na história da capacitação, os novos defensores receberam uma descrição formal do cargo e uma carta assinada por Erica Smith, que pode ser apresentada aos pastores locais, reconhecendo oficialmente seu papel.

“Às vezes vocês vão se sentir sozinhos nessa luta, mas não estão”, assegurou Smith. “A igreja, o Ministério da Mulher da DNA e a equipe enditnow® estão com vocês. Estamos aqui para apoiar.”

Construindo uma Comunidade de Defensores

Roxanne Jones, ex-assistente e coordenadora da iniciativa enditnow® da Associação do Nordeste, ao centro, conversa com outras participantes da capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da Divisão Norte-Americana (DNA).
Roxanne Jones, ex-assistente e coordenadora da iniciativa enditnow® da Associação do Nordeste, ao centro, conversa com outras participantes da capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da Divisão Norte-Americana (DNA).

Até o último dia do evento, os participantes já haviam formado uma verdadeira comunidade de defensores engajados.

José Rojas, novo diretor de gestão de riscos da Associação do Texas, compartilhou que, como pastor de uma igreja local por 15 anos, muitas vezes se sentia limitado para lidar com casos de abuso por não ter formação em aconselhamento.

“Esses workshops [mostram] como orientar melhor as pessoas aos recursos adequados”, afirmou. E acrescentou: “Muita gente precisa de ajuda, inclusive dentro das nossas igrejas. As igrejas precisam estar mais conscientes sobre o abuso e como preveni-lo.”

Ele afirmou que pretende compartilhar os conhecimentos adquiridos com os pastores de sua associação e convidar Erica Smith para conduzir um workshop Salvaguardando a Paz.

Roxanne Jones, que já havia participado da capacitação anteriormente, trouxe dois membros de sua igreja local. Eles pretendem conversar com pastores e outros líderes eclesiásticos sobre as iniciativas enditnow®. Além disso, o objetivo é incentivar a participação de todos os pastores da associação na próxima capacitação promovida pela DNA.

April Montana-González, coordenadora de proteção infantil e vice-diretora de serviços de testamentos e legados da Associação do Sul da Nova Inglaterra, participou do evento em resposta à crescente demanda por apoio nessa área. Com uma década de experiência e quase 50 casos de abuso infantil atendidos, sua atuação tem sido fortemente voltada à proteção de crianças. No entanto, durante a última reunião campal de sua associação, ela percebeu um interesse significativo por materiais sobre violência doméstica em sua mesa de recursos. Mais tarde, um pastor a abordou em busca de orientação para lidar com um caso desse tipo, o que a levou a reconhecer a necessidade de ampliar sua atuação para oferecer suporte a outras populações vulneráveis de maneira mais abrangente.

“Deus nos confiou a responsabilidade de defender aqueles que não podem falar por si mesmos”, declarou.

“Ninguém sai dessa capacitação sem ter sido transformado e preparado para agir.”

Salvaguardando a Paz e Enditnow® em Expansão

O alcance da equipe está crescendo, com convites cada vez mais frequentes para palestras em reuniões campais, encontros de obreiros e até no mais recente retiro de presidentes de associações promovido pela DNA.

G. Alexander Bryant, presidente da Divisão Norte-Americana, incentivou os participantes da capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da DNA a refletirem o evangelho de Jesus ao promoverem a conscientização sobre essa grave realidade.
G. Alexander Bryant, presidente da Divisão Norte-Americana, incentivou os participantes da capacitação Salvaguardando a Paz 2025 da DNA a refletirem o evangelho de Jesus ao promoverem a conscientização sobre essa grave realidade.

Para manter o engajamento, a equipe continuará oferecendo apoio aos defensores por meio de reuniões via Zoom. Além disso, estão sendo desenvolvidos dois novos recursos para a Adventist Learning Community: uma capacitação voltada a acompanhantes de agressores sexuais conhecidos que frequentam a igreja e um curso para embaixadores, com foco em educação básica sobre prevenção e resposta ao abuso. Com o tempo, o objetivo é lançar também um curso de formação de multiplicadores para defensores certificados do enditnow®, ampliando ainda mais o alcance da iniciativa.

No entanto, para a equipe, Salvaguardando a Paz é mais do que uma capacitação — é um chamado à ação. Erica Smith destacou:

“Estamos falando muito sobre evangelismo com o Pentecostes 2025. E ao convidarmos a comunidade para nossas igrejas, precisamos estar preparados para atender a necessidades reais. Em qualquer evento, em qualquer sábado, há vítimas e sobreviventes caminhando entre nós.”

A versão original deste artigo foi publicada no site da Divisão Norte-Americana. Entre do canal da ANN no WhatsApp para receber as últimas atualizações sobre a Igreja Adventista.

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