Bate-Papo Sobre a Igreja: Ex-presidente da Igreja Adventista reflete sobre os diálogos do 'Vamos conversar'

Bate-Papo Sobre a Igreja: Ex-presidente da Igreja Adventista reflete sobre os diálogos do 'Vamos conversar'

Os que fazem 'perguntas difíceis' hoje serão os líderes de amanhã, diz Paulsen

Um novo livro escrito pelo aposentado ex-presidente mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Jan Paulsen, amplifica as perguntas, preocupações e melhores esperanças de centenas de jovens.

Paulsen, que priorizou o ministério aos jovens e jovens adultos durante a sua administração, é amplamente conhecido pelas transmissões de TV do "Vamos Conversar -- uma série de cerca de 30 discussões improvisadas e ao vivo que se estenderam por sete anos, incluindo uma dúzia de países.

"Vamos Conversar: Diálogos com jovens adventistas sobre a sua Igreja", reflete sobre as idéias promovidas por essas conversas, mas o mais importante, Paulsen diz, é que o livro destina-se a despertar um diálogo permanente entre as gerações de adventistas.

Cada capítulo começa com amostras editadas de perguntas dos jovens dirigidas a Paulsen, seja durante transmissões do "Vamos Conversar" ou no site que as acompanhava. Seguem-se reflexão sobre os problemas e idéias levantados destinados a estimular uma discussão mais aprofundada. Paulsen diz que prevê grupos de adventistas -- jovens e velhos – reunindo-se regularmente para ter essas conversas, conquistando um espaço para avançar juntos como Igreja.

Paulsen, que serviu como presidente mundial da Igreja Adventista de 1999 a 2010, fez apelos no início de sua administração aos oficiais de todas as Divisões mundiais da IASD, instando-os a "mudarem o padrão" da liderança da Igreja e eleger uma quota de delegados jovens. Mais tarde, Paulsen liderou esforços para incluir mais jovens adultos no principal órgão de decisão da Igreja, a Comissão Executiva de 300 membros.

Numa entrevista recente, Paulsen refletiu sobre estes esforços, as conversas do "Vamos Conversar" e compartilhou as lições que espera que a Igreja continue a acolher nos próximos anos. Trechos editados:

Rede Adventista de Notícias (ANN): O que mais o impressionou quando começou esta série de conversas com os jovens?

Jan Paulsen: Aprendi muito rapidamente que, embora algumas de suas perguntas possam parecer frívolas, ou superficiais, em seus corações eles se preocupavam profundamente com a Igreja. Ficou claro para mim que estavam preocupados com grandes questões. Eles querem que a Igreja tenha um bom conceito e seja eficaz.

ANN: Qual é a coisa particularmente mais importante que os adventistas mais velhos podem fazer para envolver os jovens crentes?

Paulsen: Converse com eles. E mantenha o diálogo. Quando as pessoas não falam umas com as outras, o que acontece? Elas se afastam umas das outras. E um segundo pensamento--a Igreja precisa encontrar maneiras de confiar em seus jovens adultos. Eles são brilhantes, cheios de energia, têm dons espirituais e gostariam que isso fluísse para a vida da Igreja. Não são relutantes, apenas estão frustrados de que isso não aconteça. Eu digo, confiem neles o suficiente para  lhes dar espaço para cometerem erros.

ANN: Existem passos que os jovens devem tomar para incentivar esta relação de confiança?

Paulsen: Quando as pessoas não se comunicam, caricaturas aparecem. E, sim, isso caminha nos dois sentidos. Os membros mais velhos têm uma série de preocupações legítimas que é de utilidade que os jovens entendam. Então, eles precisam ser atraídos para aquela sensação de diálogo, de tempo compartilhado, agenda compartilhada, preocupações compartilhadas. Porque é em grande medida um processo de duas vias.

ANN: Qual era uma das áreas-chave sobre que era regularmente indagado?

Paulsen: Uma das questões que os jovens acham difícil de entender é por que critérios vamos manter os padrões, digamos, jóias, maquiagem, vestido, e por aí a fora. Então, se eu comprar algo para pendurar no pescoço, muitos mais velhos vão dizer: "Isso é errado", não só porque é decorativo, mas porque perdi dinheiro com isso. Mas alguns mais velhos vão sair e comprar roupas e carros muito mais caros, e o jovem pergunta: "Quem perdeu mais dinheiro aqui? Existe um padrão consistente?" Não é que eles estejam investigando tanto para encontrar a falha com os mais velhos, mas gostariam de ver a coerência que possam constatar. É uma tarefa difícil.

ANN: Em seu livro, chama o índice a que os jovens estão saindo da Igreja Adventista de catastrófico. Outros adventistas poderiam dizer que o evangelismo em algumas partes do mundo é igualmente preocupante. Como convencer uma Igreja com tempo e recursos limitados de que os jovens são um campo missionário válido?

Paulsen: Primeiro de tudo, eles são parte da nossa família. Para mim, isso é um grande fator. Se eles são parte da minha família, Deus nos falou—e a nossa profetisa [a co-fundadora Ellen G. White] lembrou-nos muitas vezes--da enorme responsabilidade que temos com as nossas famílias. Então, tenho que tornar uma prioridade cuidar das crianças e jovens da minha Igreja. Eles são minha família. Podemos fazer tudo quanto pudermos [noutros campos missionários], mas, se não dermos atenção a estes, seremos julgados severamente, eu temo. Além disso, os jovens constituem 50 por cento da nossa Igreja. Às vezes eu me pergunto: "Como se apresentará esta Igreja se ainda estamos aqui 30, 40 anos a partir de agora?" Aqueles que me fazem as perguntas difíceis de hoje vão ser os membros mais velhos de nossa Igreja então.

ANN: Num ano em que a Igreja está observando 150 anos de ministério, somos lembrados de quão jovens muitos dos nossos pioneiros eram. Por que não vemos muitos jovens líderes proeminentes hoje?

Paulsen: Eu acho que você pode ir ainda mais longe. Os discípulos e nosso Senhor tinham menos de 30 anos. Digo no meu livro que o obstáculo é que os jovens não têm experiência. Mas a experiência é um valor superestimado. Eu daria mais valor à atitude certa sobre experiência--a formação da pessoa, sua personalidade básica, é ela uma pessoa amável? A bondade é um valor enorme. Algumas pessoas são, por natureza, difíceis, mesmo argumentativas. É difícil se encontrar consideração e generosidade. Estas são para mim qualidades de importância fundamental para o funcionamento da Igreja. Experiência você sempre vai adquirir ao longo da caminhada da realização do seu trabalho. Não há outra maneira de consegui-lo. Gostaria de exortar nossos líderes a encontrarem jovens que tenham disposição, que se interessem pela Igreja, que amem ao Senhor, que gostariam de estar envolvidos, e deixá-los solto. Afinal de contas, não acreditamos que o Espírito Santo foi derramado sobre eles? O que Atos dois nos diz? Que, nos últimos dias, o Espírito Santo seria derramado sobre seus filhos e filhas.

ANN: A Igreja recentemente fez alguns esforços para incluir mais jovens nos principais papéis decisórios. Estou pensando especificamente nos delegados adultos jovens que representaram a Igreja nas assembleias da Associação Geral de 2005 e 2010. Vê isso como o caminho a seguir?

Paulsen: Creio que é importante, mas seria mais como a Igreja estar enviando um sinal mediante isso. Creio que é muito mais importante ver este padrão de engajamento a nível de igreja local. Gostaria de ver suficiente confiança presente em que os que estão mais avançados em anos se disponham a votar em adultos jovens a assumir responsabilidades de confiança na igreja local. Além disso, penso que, em certas mesas administrativas locais, tais como comissões executivas de associações ou mesas de uma escola ou instituição, esforços  sejam envidados para escolher jovens profissionais, pessoas que estão em meados dos 20 e 30 anos, pessoas que sejam profissionais atuantes e que tenham uma perspectiva e uma visão que podem se carreadas para o benefício da instituição.

ANN: O que na série "Vamos Conversar" acredita que estaria mais conectado aos jovens adventistas em todo o mundo?

Paulsen: Descobri que o importante não era necessariamente as respostas. Sim, os jovens esperam algumas respostas, mas o que de maior importância havia era o fato de que podiam falar com um líder da Igreja sobre essas coisas. E houve momentos em que até disse: "Eu não sei". Ou quando perguntam, e eu respondo: "O que você acha?" E ganhar uma nova perspectiva. Assim era a dinâmica dessa conversa, que creio que era importante para eles. Creio que também houve um certo apelo pelo meio utilizado--a televisão. Esta foi uma oportunidade para falar com toda a Igreja. E foi maravilhosamente gratificante para mim. Foi uma alegria estar com eles, uma alegria ver como pensam e com o que são capazes de se envolver. Então, muitas vezes, eu ia ao final de uma conversa sentar-me e pensava: "Que família incrível temos”. E comprometi-me comigo mesmo a abordar erros e acertos, mas nunca sentar-me em julgamento deles.