Quando me virei para abrir a porta do armário, percebi que Breana andava em direção ao lugar onde eu estava. Olhei para o relógio e os ponteiros marcavam 7:40 da manhã: o exato horário em que a Pequena Miss Anti-Sunshine sempre aparecia para me dar um relatório triste e melancólico sobre sua vida.
“Lá vamos nós de novo”, eu pensei com uma expressão de cansaço. “Minha vida acabou!”, disse Breana lançando suas mãos ao ar. “Acabou!”
“Eu não sei o que está acontecendo, mas não pode ser tão ruim assim”, eu disse.
“Ah, é? Então ouça isso: Chad pediu Lyndsey em namoro. Ele quer namorar com ela, e não comigo!”
Peguei o livro de física do armário e o coloquei na mochila. “Alôôôôô!”, disse Breana bem próxima ao meu rosto. “Você ouviu o que acabei de dizer? Será que Chad perdeu a cabeça? Só pode ter sido isso!”
Na verdade, eu não podia culpar Chad. Lyndsey era uma menina muito querida. Por outro lado, Breana era a reclamação em pessoa. Nunca conheci alguém com uma atitude mais negativa do que ela.
“O que a Lyndsey tem que eu não tenho?”, perguntou Breana.
“Um sorriso”, eu pensei. “Um lindo sorriso, e uma personalidade agradável”.
Mas permaneci calada, e com uma expressão de dúvida: “Não sei”, respondi.
“Deixa pra lá”, Breana resmungou com uma careta. "Ele é um idiota. E sabe quem mais é um idiota? O Sr. Migles. Ouvi dizer que ele está dando um prova surpresa hoje".
“Sim”, eu disse. “Segunda-feira ele nos alertou e disse daria uma prova essa semana, mas não falou quando”.
“Bom, eu não estou preparada para essa prova. Se eu não passar, é tudo sua culpa, Christy! Eu falei para você me enviar suas anotações por email, mas não recebi nada”.
“Breana, você sabe que ando muito ocupada com o grupo de jovens, de esporte e de dança”, eu disse. “Além disso, você deveria fazer suas próprias anotações”.
“Estou muito cansada pra fazer isso”, disse Breana. “Minha mãe me força a cuidar da minha irmã mais nova, e ela me deixa exausta”.
A vida era assim para Breana. Uma reclamação após a outra. E se ela não estava reclamando sobre alguma coisa relacionada a sua própria vida, estava ocupada ridicularizando colegas, amigos ou familiares.
Quando a conheci, gostei do seu espírito livre e independente. Fiquei fascinada com a habilidade que ela tinha de falar qualquer coisa que lhe viesse a mente.
Mas depois de um tempo, sua espontaneidade foi ofuscada pelo cinismo e negatividade. Eu não gostada da maneira como ela sempre encontrava falhas em tudo e em todos ao seu redor.
A decisão de ser uma testemunha
Um dia, depois do culto na igreja, eu disse para Carol, líder jovem da igreja, que não agüentava mais. “Breana é muito mal-educada e desagradável. Não gosto de ficar perto dela”.
“O que sabemos sobre seus pais e sua vida em casa?”, perguntou Carol. “Ela vai `a igreja?”
“Não sei”, eu disse. “Tenho medo de lhe perguntar coisas pessoais. Ela provavelmente me agarraria pelo pescoço”.
“Talvez, mas acho que você deveria tentar”, sugeriu Carol. “Parece que essa menina precisa desesperadamente de uma amiga cristã”.
Eu não tinha mais argumentos. Simplesmente não sabia se tinha o que era necessário para preencher o vazio que existia na vida de Breana. Ficar perto dela era exaustivo. Apesar disso, Carol estava certa. Decidi que eu deveria pelo menos tentar ser uma testemunha para Breana.
Um convite
“Você vai ao grupo de estudo super chato da Raquel na quarta-feira?”, Breana perguntou ao se sentar perto do meu armário, com sempre.
“Não”, eu respondi. “Tenho que estar na reunião do grupo jovem que participo”. Hesitei por um momento, e então perguntei de forma branda e gentil: “Você gostaria de vir comigo?”
Os olhos de Breana pularam como se eu a houvesse convidado para um jantar na casa do Presidente. “Você está de brincadeira comigo, né?”, ela perguntou.
“Não! Apenas pensei que talvez você pudesse gostar de conhecer pessoas novas”, eu respondi.
“Não quero te ofender, Christy, mas gente de igreja...”. Ela parou por um instante e continuou: “Eles são muito certinhos e auto-suficientes pro meu gosto”.
“Você tem uma impressão errada”, eu insisti. “Os jovens do grupo que participo são engraçados, inteligentes e são ótima companhia”.
“Eu não me encaixaria. Acredite em mim”, ela insistiu. Então, Breana falou algo que me chocou: “Mesmo assim, obrigada por me convidar”.
Salva pelo festival de artes
Eu sabia que Breana gostava de artes manuais, e por isso falei a ela sobre o festival de artes da minha igreja, que aconteceria em breve.
Então, eu disse: “Estou com um grande problema, porque sou responsável pelo estande dos jovens no festival, e não tenho a mínima ideia do que fazer para vender”.
Os olhos de Breana se iluminaram.
“Eu posso te dar algumas sugestões”, disse ela com um sorriso.
Acho que essa foi a primeira vez que eu a vi sorrir. E foi muito bom ver isso acontecer.
Durante as semanas que se seguiram, Breana fez muito mais do que apenas me dar ideias e sugestões para o estande dos jovens. Ela confeccionou vários tipos de bolsas em casa, prendedores de cabelo, imãs de geladeira, e marca-páginas. Ela ainda insistiu em vir `a igreja para ajudar a montar e trabalhar no estande. Foi maravilhoso ver Deus trabalhando diante dos meus olhos.
Durante aquele fim de semana, muitas pessoas pararam no estande de Breana para elogiar seu trabalho de artes manuais. Ela recebeu tanta atenção positiva, que refletia orgulho e era só sorrisos.
Eu não conseguia acreditar que em apenas algumas semanas, uma pessoa sarcástica, pessimista e mal-humorada havia se transformado em alguém feliz e amigável. Testemunhei tudo isso, através do testemunho cristão!
Uma nova atitude
Quando fui abrir meu armário na segunda-feira seguinte, vi que Breana se aproximou de mim no horário costumeiro. Mas dessa vez, ela agiu de uma forma diferente de todas as outras.
“O fim de semana foi tão bom!”, exclamou Breana.
“Tudo por causa de você, que fez um trabalho incrível”, eu respondi.
“Ah, obrigada”, ela disse um pouco envergonhada. “Na verdade, as pessoas da igreja são muito gentis. Muitas delas me convidaram para participar do culto na semana que vem”.
“E o que você decidiu?”, perguntei.
“Ainda não sei. Não conheço muito sobre Deus”, ela disse.
“Não há nenhum pré-requisito. Você só precisa de um coração aberto”, eu disse.
“Vou pensar sobre isso”, respondeu ela.
Durante os meses que se seguiram, eu não forcei Breana a ir `a igreja. Mas comecei a falar sobre minha fé. Ela geralmente não falava muito, mas parecia intrigada, e começou a fazer perguntas sobre a Bíblia. Breana também queria saber o que nós fazíamos durante as reuniões do grupo de jovens.
Lentamente, o comportamento de Breana começou a mudar. Ela sorria mais do que reclamava, e falava mais coisas boas do que ruins a respeito dos outros.
Até que um dia, ela me perguntou: “Posso ir `a igreja com você no próximo final de semana?”
“Com certeza”, eu disse. “Seria ótimo!”.
Breana abriu um grande sorriso, e eu também.
Finalmente, os relatórios tristes e melancólicos haviam acabado. Ufa!
Testemunhando para amigos
Sabe quando você recebe uma notícia maravilhosa? Não é fantástico compartilhar boas notícias com os outros? É assim que acontece com o evangelho. Todos os dias temos a chance de compartilhar boas novas, quando falamos de Jesus `aqueles ao nosso redor. Quem não ficaria instigado a saber mais sobre paz, redenção e vida eterna?
O livro de Romanos 10, versos 14 e 17, diz o seguinte: “Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?” “Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo”.
É difícil imaginar que alguém não queira aprender mais sobre Cristo, mas a verdade é que muitas vezes, aqueles que não são cristãos sentem-se desconfortáveis para conversarem sobre Deus. Eles podem sentir-se relutantes e intimidados para fazer perguntas sobre a fé e o cristianismo. Portanto, testemunhar envolve mais do que apenas falar sobre Deus e compartilhar as Escrituras. Normalmente, o processo do testemunho começa com a demonstração do amor de Deus e Sua aceitação através das ações de quem testemunha.
O livro de Provérbios fala da importância de manter amizades próximas. A passagem que se encontra em Provérbios 27:9 diz o seguinte: “O óleo e o perfume alegram o coração; assim é o doce conselho do homem para o seu amigo. Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai”.
Quando falei a Breana sobre minha fé, comecei aos poucos. Não a forcei a ir `a igreja, nem lhe dei lições sobre a importância de construir um relacionamento com Deus. Ao invés disso, preferi conduzi-la lentamente a Deus. Plantei a semente, e Deus a cultivou.
“Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem por intermédio das obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo” (Efésios 2:8,9).
Esse artigo foi publicado originalmente na revista Insight, em outubro de 2012.