“Deus frequentemente usa a migração para espalhar a mensagem”, disse Terri Saelee, coordenadora do Ministério para Refugiados e Imigrantes da Divisão Norte-Americana, no dia 30 de março de 2025. As palavras de Saelee fizeram parte de uma apresentação intitulada “Refugiados e o Novo Pentecostes”, realizada durante o Festival SEEDS da União do Atlântico, em Stamford, Connecticut, Estados Unidos.
Saelee explicou que, embora “você não encontre a palavra ‘refugiado’ na Bíblia..., a maior parte da Bíblia fala sobre como Deus orientou, amou, usou e ajudou um grupo de refugiados”, começando por Abraão. “Quando pessoas chegam ao nosso país, há uma tendência... de rejeitar qualquer novo imigrante.”
Apenas uma Distração?
Embora Saelee tenha crescido em uma fazenda em Nebraska, nos Estados Unidos — que pertenceu à sua família por gerações —, ela contou que Deus a chamou para servir refugiados na Tailândia. Foi uma experiência que mudou sua vida. Lá, ela não apenas pôde se conectar com refugiados, mas também percebeu como era comum que os moradores locais desprezassem os recém-chegados, mesmo que esses contribuíssem para a economia local.
"Acho que isso faz parte da natureza humana", disse ela. "Quando pensamos em refugiados em outros países, sentimos satisfação ao ajudar — especialmente quando podemos escolher quem e quando ajudar. Mas, quando nos deparamos com refugiados ou solicitantes de asilo que não se encaixam nos nossos planos, torna-se muito mais difícil manter a atitude certa."
Saelee afirmou que, nesse contexto, passou a valorizar ainda mais a história bíblica do bom samaritano.
“Acho que hoje em dia muitos elogiariam o sacerdote e o levita por não se distraírem; seguiram firmes com seus objetivos do dia. Mas o samaritano passou por ali e viu uma oportunidade na distração.”
Nesse sentido, ela enfatizou: “uma das chaves para ser alguém que Deus pode usar para alcançar refugiados e imigrantes é estar preparado para ver oportunidades nas distrações da nossa agenda.”
A Estratégia Geral de Deus e a Nossa
A estratégia geral de Deus é o plano da salvação, explicou Saelee. Dentro desse plano, nós somos as mãos de Deus para levar a mensagem a todos os povos, o que inclui muitas populações de refugiados.
“Nada é mais gratificante do que estar no centro da vontade de Deus, cumprindo seu propósito dentro do plano da salvação”, declarou ela.
E foi isso que Saelee disse ter experimentado quando Deus a conectou com outras pessoas com o mesmo coração voltado para alcançar populações de refugiados nos Estados Unidos. Seu ministério liderando uma equipe de alcance aos refugiados dos povos Hmong, Mien e outros grupos asiáticos em Sacramento, Califórnia, resultou no surgimento de novas igrejas e núcleos adventistas. Ela acabou se casando com Ko Saelee, um pastor adventista do povo Hmong, originalmente da Tailândia. Juntos, estão servindo à comunidade Hmong que foi realocada para Hickory, na Carolina do Norte.

Fortalecendo Líderes Locais para o Alcance Missionário
Terri Saelee costuma enfatizar que um dos propósitos centrais do ministério entre diferentes culturas é identificar as pessoas chamadas por Deus e capacitá-las para alcançar seu próprio povo. Com base nessa visão, o Ministério com Refugiados atua organizando novas igrejas, oferecendo mentoria a seus líderes e integrando essas comunidades às associações locais.
Como resultado dessa abordagem, um vídeo recente da Adventist Mission destacou que, nos últimos anos, o número de grupos linguísticos alcançados dobrou e o número de congregações formadas por refugiados aumentou de 57 para 179.
“A membresia quadruplicou, e tanto os batismos anuais quanto os dízimos cresceram oito vezes,” relatou o vídeo.
Desafios e Dicas para Alcançar Refugiados
A missão entre grupos de refugiados enfrenta desafios significativos, reconheceu Terri Saelee. No vídeo da Adventist Mission, Ko Saelee compartilhou algumas das dificuldades que vivenciou ao tentar alcançar os Hmong:
“Quando nos tornamos cristãos, outros nos excluem; você se torna um excluído,” explicou. “Então, a menos que construamos uma rede de apoio, é um milagre alguém conseguir viver sua fé dentro de sua cultura e com sua família.”
Na apresentação de 30 de março, Saelee compartilhou lições que aprendeu ao longo do caminho. “Aprendi com meu marido o quanto é importante, ao trabalhar com refugiados, atuar junto com os líderes da comunidade,” disse ela. “Você pode cometer um grande erro ao gastar muita energia tentando converter alguém que não é líder quando está começando com um novo grupo.” Ela explicou que isso não significa ignorar os demais, mas sim agir com estratégia.
Ko Saelee concordou. “Quando vou a uma reunião do meu povo, procuro primeiro saber quem é o líder. Se você respeitar e fizer amizade com o líder, todo o grupo fica receptivo,” disse ele. “Na cultura ocidental, os líderes da igreja geralmente são os mais instruídos ou os maiores ganhadores de almas. Em algumas regiões estrangeiras, o líder pode ser apenas quem fala inglês,” explicou. “Mas em certas culturas, essa escolha pode comprometer a missão, porque o povo pode não respeitar essa pessoa como líder.”
Alcançando Todos
Saelee também enfatizou que a Bíblia nos chama a alcançar “toda nação, tribo, língua e povo” (Apocalipse 14:6). Segundo dados que ela reuniu, a Igreja Adventista está presente em 215 das 236 nações e territórios reconhecidos pela ONU.
Quanto às tribos, Saelee reconheceu que não encontrou dados relevantes em inglês. “Na cultura ocidental, nem sabemos exatamente o que isso significa,” comentou. “Mas em muitas culturas, a origem familiar ou a tribo é extremamente importante... Por isso acho interessante que Deus tenha incluído essa palavra no cerne da nossa declaração de missão como adventistas.”
Com isso, ela incentivou os plantadores de igrejas a conhecerem e respeitarem esse elemento cultural, que pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma nova congregação. “A escolha de líderes é muito importante, e é fundamental que não escolhamos líderes de fora da cultura do grupo que estamos tentando alcançar,” afirmou.
Conectando com Respeito
Saelee compartilhou que existem cerca de 7.000 grupos linguísticos ainda não alcançados no mundo. “Raramente pensamos sobre isso,” disse. Alcançar a todos significa esforçar-se para compartilhar o evangelho com todos os povos. E tanto no contato pessoal quanto no planejamento estratégico, a chave, segundo ela, é “conectar com respeito.”
Ela contou, de forma sincera, que no início do ministério, quase inconscientemente, achava que alguns de seus alunos iniciantes em aulas de idiomas não eram tão inteligentes — simplesmente porque ela não compreendia sua cultura e idioma. Mas tudo mudou quando passou a conhecê-los melhor. “Descobri que eram professores, funcionários públicos e empresários de muito sucesso.”
“Eles já tinham conquistas notáveis e falavam várias línguas. Por isso, é essencial que nos conectemos com respeito, para realmente alcançá-los.”
Além da Inclusão
Ao encerrar sua apresentação, Saelee destacou que “a inclusão é algo positivo, mas tem seus limites.” Segundo ela, “capacitar os grupos para que liderem por si mesmos os levará ainda mais longe.”
Saelee também deixou claro que é necessário agir de forma intencional para alcançar grupos não alcançados — inclusive aqueles dos quais nunca ouvimos falar. A chave, afirmou, está em identificar interesses em comum entre os diferentes grupos linguísticos.
Atualmente, na Divisão Norte-Americana (DNA), o Ministério para Refugiados e Imigrantes já desenvolveu entre 15 e 20 grupos linguísticos, que podem servir como ponte para aqueles interessados em alcançar pessoas de sua própria origem cultural.
“Precisamos de pessoas como Filipe [na Bíblia]”, disse Saelee, “dispostas a ouvir o Espírito Santo, mesmo que Ele diga para ir por um determinado caminho, em um dia específico, a fim de encontrar e cumprir a missão de Deus.”
A versão original deste artigo foi publicada no site da Adventist Review. Entre no canal da ANN no WhatsApp para acompanhar as últimas notícias da Igreja Adventista.