Durante décadas, um exemplar do clássico Vida de Jesus, de Ellen White — impresso em 1973 pela Casa Publicadora Brasileira e vendido por um colportor — permaneceu guardado, quase esquecido, no sótão de uma casa em Teresina, capital do Piauí. O livro acumulou poeira, até ser redescoberto, por acaso, no ano 2000, durante uma reforma no imóvel.
Contratado para executar a obra, o pedreiro Paulo Santos recebeu uma orientação clara da proprietária: descartar os livros velhos que estavam amontoados no sótão. No meio da pilha empoeirada, porém, um volume lhe chamou a atenção. Aquele exemplar de capa marrom, com o título dourado e o rosto de Cristo em alto relevo, parecia guardar algo além de papel e tinta. Movido pela curiosidade, Paulo perguntou se podia ficar com o livro. A resposta foi imediata: “Pode levar”. “Aquela mulher tinha um tesouro em casa, algo de valor incalculável, mas não soube reconhecer”, ele declara.
Aquele livro, antes esquecido no sótão, passou a ocupar um lugar especial no lar e na vida do pedreiro. Impressionado, Paulo mergulhou na leitura. No entanto, ao comentar sobre o conteúdo com um sacerdote da denominação que frequentava na época, foi surpreendido com uma orientação inesperada: queimar o livro.
A reação, no entanto, foi justamente oposta. Para ele, ficou claro que aquele não era um livro comum. A sugestão apenas reforçou sua convicção de que havia encontrado algo precioso. E um detalhe aumentou ainda mais essa impressão: entre as páginas, um pequeno cartão publicitário do programa A Voz da Profecia — um convite para conhecer mais da Bíblia — saltou aos seus olhos.
Movido por esse chamado, Paulo deu início a uma jornada espiritual que o levou, em 2024, a visitar uma igreja adventista pela primeira vez. Essa caminhada o conduziu à decisão mais importante de sua vida: o batismo. E o cenário escolhido para esse momento não poderia ser mais simbólico: a Casa Publicadora Brasileira, a editora da Igreja Adventista.
A cerimônia ocorreu durante um evento igualmente especial: a celebração dos 125 anos da instituição, no dia 26 de maio. Foi um momento marcado por surpresa e emoção, como o reencontro com Ildete Silva, revisora da edição do Vida de Jesus que influenciou sua decisão pelo batismo.

Essa história trouxe ainda mais significado à mensagem compartilhada pelo pastor Alejandro Bullón durante o programa. Com base em Isaías 55:11, ele reforçou uma verdade que atravessa o tempo: a Palavra de Deus nunca volta vazia. Ela sempre cumpre o seu propósito, ainda que demore anos, décadas ou até mais de meio século. Foi exatamente assim com o livro que chegou às mãos de Paulo e frutificou muito tempo depois.
Ao mesmo tempo em que destacou a importância da colportagem, um ministério essencial na proclamação da mensagem desde os primórdios do movimento adventista, o programa também apresentou os frutos de outro movimento missionário que, há quase duas décadas, mobiliza a igreja no evangelismo por meio da página impressa: o Impacto Esperança.
Mensagem Silenciosa
A história de Kátia Cruz de Souza Lima está diretamente relacionada a essa iniciativa. Em 2023, sua família enfrentava um momento muito difícil após a perda de seu irmão. Mergulhadas no desespero, ela e a filha decidiram, certo dia, caminhar sem rumo pelo calçadão da cidade de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Em determinado ponto do percurso, um casal se aproximou e lhes ofereceu o livro A Maior Esperança. Ao folhear a obra, Kátia se deparou com uma citação do Salmo 121, o mesmo que havia lido antes de sair de casa, e com uma declaração confortadora: “Deus é especialista em enxergar um rosto na multidão. [...] Ele sabe onde você mora, o que faz e o que vai em seu coração. [...] Em meio às perdas e aos traumas que ocorrem em um mundo que vai de mal a pior, Deus tem conforto, orientação e uma guia segura a oferecer” (p.12).
Na contracapa, havia o endereço de um dos templos adventistas da cidade de São Paulo, onde elas moravam. Decidiram visitar a congregação e passaram a frequentar as reuniões. Batizadas em dezembro de 2023, Kátia e a filha, Karina, hoje são membros da Igreja Adventista de Vila Formosa.
Um novo capítulo dessa história foi escrito durante o programa comemorativo dos 125 anos da CPB, quando elas puderam conhecer Eliana e Denilson, casal que foi instrumento de Deus naquele dia, entregando o livro que mudou o rumo de suas vidas.
Páginas em Movimento
Ao longo de sua trajetória, a Casa Publicadora Brasileira tem contribuído significativamente para que a mensagem se espalhe como folhas de outono. Nenhum caminhão sai da editora vazio. Por isso, um dos momentos marcantes do programa foi a entrada de um veículo antigo, com as mesmas características dos primeiros furgões adquiridos pela editora para o transporte de livros e revistas.
Dentro dele, foram colocadas caixas contendo dois presentes especiais entregues aos participantes: miniaturas desse veículo histórico e exemplares de uma edição comemorativa do livro Os Embaixadores, uma versão de Atos dos Apóstolos em linguagem atualizada. O veículo ficará exposto na matriz como um lembrete do início humilde da instituição e do compromisso permanente de levar a mensagem a todas as pessoas.
Propósito do Crescimento
Em 1900, quando a Casa Publicadora Brasileira deu seus primeiros passos, no Rio de Janeiro, o adventismo no país contava com apenas 26 congregações e cerca de 700 membros. Nesse cenário, pessoas visionárias compreenderam que o país precisava de uma editora capaz de levar a mensagem a todo o território.
Atualmente, o Brasil conta com mais de 1,8 milhão de adventistas e quase 20 mil congregações, consolidando-se como o país com o maior número de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia no mundo. “Sem dúvida, a CPB foi fundamental para o crescimento da igreja. Muitas famílias que se sustentaram por meio da colportagem levaram a mensagem a milhares de pessoas. Nossos púlpitos foram fortalecidos com sermões cristocêntricos, bíblicos e doutrinariamente sólidos. A vida devocional dos membros foi alimentada pelos periódicos denominacionais. E os materiais didáticos produzidos pela editora têm sido essenciais para preservar a filosofia adventista de ensino em nossas 347 escolas, que atendem a quase 300 mil alunos”, destacou o pastor Stanley Arco, presidente da Igreja Adventista para oito países sul-americanos.
Ao mesmo tempo em que abençoou a igreja ao longo desses 125 anos, a Casa Publicadora Brasileira cresceu com ela. Nos primeiros dez anos de existência, a editora imprimiu 2,7 mil livros. Na década de 1940, alcançou a marca de 1,3 milhão de exemplares, número que saltou para 6 milhões na década de 1970. Já nos últimos dez anos do século passado, foram produzidos 17 milhões de livros, refletindo o contínuo avanço da missão editorial.
“Nas mãos de Deus, as folhas de outono se multiplicaram de forma exponencial. Somente em 2024, imprimimos mais de 38 milhões de livros, o equivalente a 5,2 bilhões de páginas. Para se ter uma ideia, na primeira década da CPB foram consumidas apenas três toneladas de papel. Hoje, utilizamos 642 toneladas dessa matéria-prima por mês”, destacou o pastor Uilson Garcia, presidente da Casa Publicadora Brasileira.
Reafirmando esse compromisso, após o evento realizado no auditório da CPB, líderes da igreja e mais de 300 motociclistas uniram-se aos colaboradores da editora para distribuir 14 mil exemplares do livro missionário A Chave da Virada na cidade de Tietê, localizada próximo a Tatuí, onde fica a matriz da instituição. “É uma grande bênção fazer parte desse ministério sagrado e saber que nosso trabalho pode transformar vidas. Foi com esse sentimento que saímos para realizar a entrega da literatura de salvação e esperança à população de Tietê”, declara o colaborador Edwin Castilho.
“Esta editora segue firme em sua missão: imprimir para salvar”, concluiu o pastor Garcia.
A versão original deste artigo foi publicada no site de notícias da Divisão Sul-Americana em português. Entre no canal da ANN no WhatsApp para acompanhar as últimas notícias da Igreja Adventista.