Preservar a identidade da Igreja, mas ministrar à comunidade de gays e lésbicas, declara participante do painel do encontro de cúpula adventista sobre sexualidade

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Um painel discute as questões de GLBT em 18 de março num encontro de cúpula sobre sexualidade da Igreja Adventista

Um painel de especialistas no encontro de cúpula da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre sexualidade discutiu ontem a melhor forma de lidar com questões que envolvam a comunidade de gays e lésbicas de uma forma que tanto defenda a identidade teológica da Igreja quanto reconheça as realidades enfrentadas por pessoas que lutam com a orientação sexual.

Essas realidades já estão impactando a vida da Igreja, disseram participantes no encontro de cúpula da Igreja Adventista sobre sexualidade dia 18 de março na Cidade do Cabo, África do Sul. 

“Membros da Igreja podem ser encontrados numa escala de gente ativamente homossexual e aqueles que negam essa realidade”, disse Willie Oliver, diretor do Departamento de Ministérios da Família, da Igreja Adventista a nível mundial. “Temos defrontado [estas realidades] em todos os lugares por anos. As pessoas estão sofrendo e experimentando sentimentos que alguns de nós não parecem dispostos a reconhecer”. 

Atualmente, os governos de 18 países e 15 estados dos Estados Unidos reconhecem o casamento homossexual. Mais de 100 países já descriminalizaram a conduta homossexual. Trinta e quatro dos 54 países africanos, no entanto, julgam isso como ato criminoso, disse Karnik Doukmetzian, consultor geral para a Igreja Adventista a nível mundial, num apanhado geral das realidades jurídicas. 

“Envolva-se na compreensão das leis em seu país”, disse ele. “Questões legislativas estão em progresso; leis estão mudando constantemente”. 

Um exemplo prático, Doukmetzian disse, é se um pastor adventista pode legalmente optar por não casar pessoas do mesmo sexo, alegando um conflito de consciência. “Assegure-se de que a legislação no seu país permite que ministros religiosos optem pela isenção disso”, recomendou ele, pedindo que os administradores e pastores trabalhem em conjunto para elaborar antecipadamente uma resposta fundamentada na doutrina e crença adventista. 

Na área trabalhista, também, a legislação pode afetar a Igreja Adventista, disse Lori Yingling, diretor-adjunto de Recursos Humanos, na sede mundial da Igreja Adventista em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos.

“Por sermos uma organização religiosa, temos nos EUA, um ‘artifício legal’ que nos permite contratar apenas adventistas do sétimo dia”, disse Yingling, observando que a exceção permite que instituições da Igreja requeiram condições de emprego com base em praxes operacionais e crenças da Igreja que os funcionários em potencial devem ler e assinar. 

Mas, além das questões jurídicas e de emprego ocorrem as lutas de pessoas reais, disse Brett Townend, presidente da Associação Norte-Australiana da Igreja Adventista.

“Pensamos em termos de praxes, praxes e protocolos, mas pessoas é que estão envolvidas”, disse Townend. “Se apenas fazemos pronunciamentos que esfregam sal em feridas muito abertas, não estamos ajudando. Precisamos preservar tanto nossa Igreja quanto lidar com a dor bastante real que estes indivíduos estão experimentando”.

Componentes do painel também consideraram a crescente necessidade de ministrar a jovens adventistas que exploram ou lutam com questões de identidade sexual. “O que estamos vendo, principalmente nas universidades, são estudantes tentando descobrir quem são”, disse Elaine Oliver, diretora-associada do departamento de Ministérios da Família da Igreja Adventista a nível mundial.

“Infelizmente, muitos pais cristãos mantêm-se em silêncio sobre esse assunto”, disse Oliver. “Quando ficamos em silêncio ao lidar com questões de identidade das nossas crianças, há muitas vozes lá fora dispostas a ajudá-las a descobrir como lidar com a sua identidade. Não podemos mais nos dar ao luxo de ficar em silêncio”.

Ekkehardt Mueller, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Igreja Adventista a nível mundial, concordou enfaticamente. Os jovens adultos de hoje, segundo ele, são “bombardeados com mensagens nos meios de comunicação”. Mueller observou uma “mudança” na forma de pensar e como as gerações mais jovens abordam cada vez mais questões de gays e lésbicas através da lente da justiça social, em vez da moralidade.

O painel, moderado pelo vice-presidente Pardon Mwansa, da Igreja Adventista, também discutiu se a condição de membro da igreja deve ser concedida aos que sentem atração  por pessoas do mesmo sexo que não estejam atuando segundo essa atração.

“O mínimo que podemos fazer é reconhecer que a própria orientação não é pecado”, disse Townend”. Jesus morreu por pessoas que sentem atração por individuos [do mesmo sexo]? Será que ele quer que entrem em um relacionamento com ele? Eu iria batizá-los sem muita hesitação”.

Townend reconheceu que tal movimento poderia gerar uma onda de conversa nas congregações locais, mas disse que “as discussões devem começar a partir da posição de escuta, não de condenação”. A Igreja, disse ele, deve ser um “lugar seguro”, onde mentores sejam designados para membros recém-batizados ainda lutando com a identidade sexual. 

Quando indagado sobre como iria responder a pessoas com atração àqueles do mesmo sexo lutando ativamente para mudar sua orientação, mas não conseguindo êxito, Peter Swanson, professor-adjunto de Cuidado Pastoral na Universidade Andrews, da Igreja, disse que afirmaria “a persistência dessas pessoas”, mas perguntaria se os seus objetivos são “irreais ou inatingíveis”. Outro fator, segundo ele, poderia ser se a pessoa tem o amor e o apoio de um círculo de amigos e membros da família.

Anteriormente no dia, Kwabena Donkor, diretor-associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Igreja Adventista a nível mundial, apresentou a hermenêutica ou interpretação, da homossexualidade na Bíblia. Ele disse que os principais pontos de discórdia são interpretações de passagens—diferentes hermenêuticas, “tradicional” ‘versus’ “contemporânea”.

“A hermenêutica contemporânea cria uma distinção entre o que o texto significava e o que isso significa, e isto assinala a mudança da hermenêutica tradicional”, disse Donkor. O objetivo da hermenêutica contemporânea, disse ele, “é pôr em marcha o assim chamado ‘mundo lingüístico extra’, a projeção de novos mundos de significado”.

Em uma nota escrita à mão, um delegado anônimo perguntou se eles, um assinante para a hermenêutica contemporânea, seria aceito na cúpula. Donkor respondeu que a Igreja precisa manter discussão com pessoas que têm outras “pressupostos” enraizados em tal abordagem.

Por exemplo, Donkor disse, os teóricos que suportam a hermenêutica contemporânea dizem que a história de Sodoma em Gênesis 19 é tomada como um significante linguístico, onde o referente primário não é a homossexualidade, mas a injustiça, expressa como uma violação dos costumes de hospitalidade e estupro homossexual tentado.

“Estão negando a premissa básica de que aquela era na verdade uma tentativa de homossexualidade e estão tentando contorná-la”, Donkor mais tarde disse à margem da conferência. "Mas, como Igreja, precisamos dialogar com as pessoas que têm esses pressupostos”, disse ele. “Rotulamo-los como ‘liberais’, mas os rótulos não ajudam. Eles estão comprometidos e precisamos entendê-los e falar com eles”.

 

 

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