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Legista australiana confirma que dingo apanhou o bebê em 1980

Chamberlains 80s

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Decisão traz alívio para os Chamberlains, adventistas, outrora acusados de assassinato

A decisão de hoje de um inquérito sobre o desaparecimento de um bebê de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1980 na Austrália poderia assinalar o último capítulo de uma saga jurídica que durante anos atomentou a família, dividiu aquela nação e prejudicou a imagem da IASD.

Lindy Chamberlain-Creighton fala com a mídia enquanto o ex-marido Michael Chamberlain está nas proximidades, diante do Fórum da cidade de Darwin , Austrália, terça-feira, 12 de junho. Um juiz tinha acabado de decidir que um dingo havia apanhado a bebê Azaria Chamberlain de sua tenda no deserto central da Austrália em 1980, pondo fim a uma saga que levou a mãe da bebê à prisão por assassinato, mais tarde sendo inocentada. [foto: Patrina Malone via EPA]
Lindy Chamberlain-Creighton fala com a mídia enquanto o ex-marido Michael Chamberlain está nas proximidades, diante do Fórum da cidade de Darwin , Austrália, terça-feira, 12 de junho. Um juiz tinha acabado de decidir que um dingo havia apanhado a bebê Azaria Chamberlain de sua tenda no deserto central da Austrália em 1980, pondo fim a uma saga que levou a mãe da bebê à prisão por assassinato, mais tarde sendo inocentada. [foto: Patrina Malone via EPA]

Uma juíza legista na cidade de Darwin, no Território do Norte, Austrália, decidiu que Azaria Chamberlain, de nove semanas de idade, filha de Michael Chamberlain e Lindy Chamberlain-Creighton, foi apanhada por um dingo [espécie de cão selvagem dos desertos australianos] num parque de campismo perto de Ayers Rock, agora conhecida por seu nome aborígine, Uluru.

O desaparecimento da criança criou um pesadelo para a família, que suportou anos de insultos e acusações públicas de tirar a vida de sua própria filha.

Alguns acusaram a denominação adventista do sétimo dia -- então relativamente pouco conhecida -- de incentivar atos assim hediondos. Chamberlain-Creighton foi condenada por assassinato, pelo qual passou três anos na prisão antes de novas evidências inverterem sua sentença.

O incidente tornou-se conhecido internacionalmente com o lançamento do filme de 1988, "Um Grito no Escuro", estrelado por Meryl Streep.

A decisão de hoje, proferida pela juíza Elizabeth Morris, no Fórum de Darwin, é o quarto inquérito posterior ao caso. Segundo a rede de TV ABC News, da Austrália, ela comentou que foram relatados ataques de dingo contra outras crianças nos meses que antecederam ao incidente e que um covil de dingo foi encontrado na área. Ela, então, emitiu um atestado de óbito alterado.

Mais tarde Chamberlain-Creighton dirigiu-se aos meios de comunicação fora do tribunal, dizendo: "Obviamente estamos aliviados e felizes por chegar ao final desta saga .... Na Austrália ninguém mais será capaz de dizer que dingos não são perigosos e só atacam se provocados. Vivemos num país bonito, mas é perigoso, e gostaríamos de pedir a todos os australianos que estejam cientes disso e tomem as devidas precauções sem esperar que alguém faça isso por eles".

Azaria teria completado 32 anos ontem, disse sua mãe. Os Chamberlains se divorciaram em 1991 e ambos se casaram novamente.

Michael Chamberlain também dirigiu-se aos meios de comunicação, dizendo: "Hoje, ouvi a legista Morris falando pelos mortos, em nome da vida. Esta batalha para chegar à verdade jurídica sobre o que causou a morte de Azaria levou muito tempo. No entanto, estou aqui para lhes dizer que podem obter justiça, mesmo quando acham que tudo está perdido. Mas, a verdade deve estar do seu lado. Eu não posso enfatizar de forma suficiente quão sagrada é a vida humana e deve ser protegida a todo custo. Não posso expressar com força suficiente o quão importante é bater-se por uma justa causa, mesmo quando a missão parece ser impossível. Se você sabe que está certo, nunca desista de fazer isso aparecer, quando a gravidade da questão pode afetar a vida e o sustento de outros.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia da Divisão do Pacífico Sul, com sede em Wahroonga, perto de Sydney, divulgou um comunicado acolhendo bem a decisão, chamando o drama de décadas "um dos mais chocantes erros jurídicos na Austrália na era moderna. Esperamos e oramos que a decisão de hoje seja apenas mais um passo no processo de cura para os Chamberlains e para a nossa nação", disse o comunicado. "Esperamos que a experiência dos Chamberlains inspire todos nós a agir com justiça e defender aqueles que são maltratados", prosseguia.

Oficiais da Igreja também foram gratos ao advogado Stuart Tipple e outros profissionais jurídicos por trabalharem no caso dos Chamberlains, bem como aos milhões de australianos que se expressaram contra a injustiça pública contra a família. "A capacidade do nosso sistema jurídico em reconhecer e corrigir os erros é uma das características que fazem da Austrália uma grande nação. As decisões do inquérito são um sinal de força da nossa nação e integridade", concluía o comunicado.

Segundo o seu website, Chamberlain-Creighton está escrevendo um livro para crianças e outro sobre dor e perdão. Ela continua a realizar seminários e fazer discursos sobre o estresse, tristeza e os meios de comunicação.

Michael Chamberlain, agora um professor aposentado, obteve um Ph.D. em educação pela Universidade de Newcastle, em 2002. Ele está escrevendo sobre suas experiências num próximo livro.

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