Durante anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na Romênia vem promovendo campanhas contra a violência doméstica, mas a sua iniciativa mais recente naquele país do leste europeu teve novo enfoque—ressaltar o bom comportamento, em lugar da costumeira representação de violência e lesões. 

A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais [ADRA] na Romênia em parceria com organizações da Igreja Adventista, agências governamentais e corporações lançou a iniciativa de âmbito nacional, “Verdadeiro Homem”, que começou em dezembro e durou até o final de janeiro.

Os organizadores escolheram o símbolo de um cachecol azul que as mulheres dariam a um “verdadeiro homem” que mostrasse carinho e amor. O apelo de dois meses incluiu parcerias com quase 20 meios de comunicação nacionais e locais, bem como cartazes e panfletos distribuídos a cerca de 250.000 pessoas por meio de varejistas participantes.

A série de várias campanhas ao longo dos anos não só aumentou a conscientização do problema em todo o país, como tem ajudado a mudar leis para capacitar as vítimas, também propiciando maior reconhecimento à Igreja Adventista num país onde esta se acha como uma minoria pouco conhecida.

A Igreja Adventista na Romênia é uma de muitas unidades administrativas locais que promovem vigorosamente mensagens contra a violência doméstica. O enfoque viu ressurgimento após a denominação ter lançado sua primeira iniciativa oficial de prevenção mundial de abuso em 2001.

Numa entrevista, o diretor da ADRA da Romênia, Sorin Goleanu, explica por que acha que os benefícios superam os riscos de parceria com entidades de fora. O referido dirigente, de 38 anos de idade, também discutiu o que aprendeu a fazer de forma diferente desde a primeira campanha e a importância de saber quando usar ajuda profissional. 

Trechos seletos:

Rede Adventista de Notícias (ANN): Por que acha que foi benéfico mostrar o comportamento bondoso em vez do método costumeiro de representar a violência doméstica?

Sorin Goleanu: Todas as outras campanhas contra a violência doméstica empregavam palavras, sons e imagens específicas para a violência a fim de transmitir sua mensagem. Basicamente mostram uma constante revitimização—as vítimas são sempre colocadas em situações humilhantes, e os homens, em geral, retratados como agressores permanentes. Achamos que ambas essas generalizações causam dano às vítimas e à confiança em geral nos homens como seres humanos sensíveis e interessados ​​no bem-estar de suas famílias.

ANN: Como sabe que é necessário esse tipo de mensagem?

Goleanu: De acordo com dados recebidos do número nacional de emergência 112 (equivalente ao 190 no Brasil), de 1º. de janeiro de 2012 a 9 de outubro de 2013 houve quase 140 mil casos confirmados de violência doméstica em todo o país. Infelizmente, esses dados não refletem necessariamente a realidade, pois muitos casos não notificados de violência permanecem por várias razões, tais como vergonha, medo de ser deixado sem suporte econômico, pressões culturais e religiosas, a vítima estar convencida de que foi sua culpa ou que é um caso isolado.

ANN: O que fazia a ADRA da Romênia em campanhas anteriores?

Goleanu: Houve uma campanha que contou com o campeão de boxe romeno Leonard Doroftei e o slogan, “Você gosta de bater? Escolha o adversário certo!” Outra teve o slogan “Cale-se em voz alta!”, para incentivar as mulheres abusadas a agir e avisar as autoridades.

ANN: Como tem se valido da dinâmica de campanhas anteriores?

Goleanu: Do nosso ponto de vista, cada uma das nossas campanhas anteriores foi um sucesso e nos ajudou, em termos de imagem, a nos tornar uma organização mais visível entre as que tratam desse problema. A campanha deste ano superou até mesmo as nossas próprias expectativas. E quando eu digo isso, estou me referindo especificamente a nossas parcerias: o Carrefour é um dos varejistas mais importantes do país, com milhões de clientes todos os dias. SanoVita é a maior empresa de alimentos saudáveis ​​na Romênia. Eles assinaram uma parceria estratégica com a gente, e colocaram em todos os seus produtos adesivos com os projetos da ADRA da Romênia. 

ANN: Qual foi a reação?

Goleanu: Três redes nacionais de TV decidiram dobrar o período de divulgação em até dois meses e o anúncio na TV era visto diariamente por milhões de romenos. Realmente, as reações foram surpreendentes. Representantes de várias instituições públicas e, também muitas pessoas do público, só tinham palavras boas a dizer. Por exemplo, duas instituições parceiras, a Prefeitura de Bucareste e a Polícia de Bucareste, comentaram: “Estamos orgulhosos de ser seus parceiros em tão grande campanha contra a violência doméstica”.

ANN: Existem planos para campanhas semelhantes no futuro?

Goleanu: Certamente! Todas as nossas ações devem ser apoiadas pelo trabalho real, bem como a promoção de uma imagem. Estamos envolvidos e interessados ​​em penetrar na sociedade. Claro, nem todas as nossas campanhas têm o mesmo nível porque alcançam públicos diferentes. Em poucos dias vamos lançar uma nova campanha para levantar 2 por cento—na Romênia cada empregado pode escolher um destino para 2 por cento do Imposto de Renda Total. Em anos anteriores, por causa da nossa promoção da questão, nossa receita triplicou para essa iniciativa.

ANN: O que aprendeu ao longo dos anos com respeito a como tornar suas campanhas mais eficazes? Em outras palavras, o que gostaria de ter sabido a primeira vez que fizeram isso?

Goleanu: Aprendi que é melhor ser profissionais para ter metas mais altas. É claro que estamos gratos por nossos voluntários e é importante mobilizá-los, mas em algumas áreas realmente são precisos profissionais. Claro, custam mais, porém os benefícios são muito maiores no final. Sabemos como ser racionais, poupar, mas nunca em termos de qualidade ou de confiança em Deus. Além disso, estamos mais inclinados a manter o trabalho dentro da Igreja, mas optamos por ir para fora da Igreja muito mais. Apesar de que poderia ser perigoso, e algumas pessoas tinham suspeitas, Deus nos ajudou a provar o contrário. Agora temos inúmeras parcerias com destacadas instituições e grandes empresas. Isso nos permite investir mais no desenvolvimento das pessoas e da sociedade sem negligenciar a Igreja e manter parcerias sérias com a sociedade em que vivemos.