A Divisão Interamericana celebrou recentemente o décimo aniversário do Ministério Adventista das Possibilidades (MAP), que tem como foco a inclusão e a cura espiritual, emocional e física de pessoas com deficiências.
Organizado por Samuel Telemaque, diretor do MAP na Divisão Interamericana, o retiro virtual realizado entre os dias 9 e 13 de abril de 2025 conectou mais de 600 líderes de igrejas, diretores do ministério e membros envolvidos no atendimento a pessoas com deficiências. O evento virtual também contou com palestrantes que abordaram temas como luto, cuidados com pessoas com limitações, compreensão das condições que afetam a saúde mental e ministério com pessoas surdas, além de incentivar a participação ativa das igrejas e comunidades locais.
Aceitando as Cicatrizes
Em um devocional de abertura, Ernesto “Douglas” Venn, atual assistente do presidente da Associação Geral para o Ministério Adventista das Possibilidades, encorajou os participantes a verem as cicatrizes e deficiências não como motivo de vergonha, mas como oportunidades para glorificar a Deus.
“Jesus também tem cicatrizes”, lembrou Venn à audiência. “E Suas cicatrizes podem ser usadas para contar a história de Deus por meio da vida de vocês.”
Venn também destacou que Deus vê as deficiências de maneira diferente do mundo. Aos olhos de Deus, “elas são formas de testar a igreja e fazê-la crescer em amor”, enfatizou. Ele citou 2 Coríntios 12:9 e encorajou os participantes a enxergarem suas próprias cicatrizes e fraquezas como oportunidades para que o poder de Deus se aperfeiçoe. “O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, leu ele.
Lidando com o Luto e a Perda
No segmento seguinte, o Dr. Efraín Velázquez, presidente do Seminário Teológico Adventista Interamericano (SETAI), falou sobre como lidar com o luto e a perda. Velázquez compartilhou a experiência de sua família com Ben, um de seus filhos, que era neurodivergente e sofria de depressão desde a infância. Ben cresceu e concluiu seus estudos universitários, mas infelizmente não conseguiu superar a depressão crônica e tirou a própria vida.
“Como enfrentar uma perda como essa?”, perguntou o Dr. Velázquez. “Meu papel não é explicar tudo sobre neurodivergência e depressão, mas sim criar consciência sobre o tema”, disse.
Ao falar sobre o luto, o Dr. Velázquez enfatizou que especialistas concordam que nem todos lidam com a dor da mesma forma.
“Cada perda é única e não precisa ser comparada com outra”, afirmou, citando o Dr. Carlos Fayard. Ele também explicou que o luto é um processo, não um evento, e que é cíclico, não linear.
O Dr. Velázquez incentivou aqueles que enfrentam uma perda a buscar ajuda quando necessário. “O luto é normal, mas é complexo”, lembrou ele aos participantes, e sugeriu: “levem a sério as pequenas perdas (que os prepararão para as maiores), reservem tempo para se curar e liberem o estresse de forma saudável.” Entre outras recomendações, ele também sugeriu dar um significado à perda, confiar em outra pessoa — um amigo, por exemplo — e buscar renovação espiritual.
Cuidando de Quem Cuida
Após a palestra do Dr. Velázquez, a professora Linda James falou sobre como cuidar dos cuidadores — ou seja, das pessoas que prestam cuidados diretos a outras. Ela também compartilhou sua própria experiência cuidando de um filho adulto com necessidades especiais. Em seu caso, esse cuidado envolve ser responsável pela medicação, transporte e apoio emocional do filho.
A professora James destacou a importância do apoio da igreja e da necessidade de haver mais recursos e compreensão para com pessoas com necessidades especiais. Ela também chamou atenção para o custo emocional e físico de cuidar de outros, incluindo sua própria experiência com o filho, que desenvolveu tendências homicidas durante a pandemia de COVID-19.
Apesar de todos os desafios enfrentados como cuidadora, a professora James disse que é grata:
“Me recusei a acreditar que estou amaldiçoada; apesar de às vezes me sentir desanimada, fico feliz em saber que sou abençoada.” Nesse sentido, a professora James fez um apelo a todos, especialmente aos cuidadores, para que continuem confiando em Deus. “Continuem confiando no plano de Deus enquanto cuidam de seus entes queridos”, disse ela, “porque Deus tem um plano para a [nossa] vida e também para a dos [nossos filhos], e ninguém pode impedir esse plano.”
Ao final da sessão de 9 de abril, o pastor Telemaque incentivou os participantes a convidarem pessoas com deficiências e também não adventistas para se conectarem com o ministério. Ele enfatizou a importância da inclusão no ministério e encorajou os presentes a convidarem amigos para os próximos encontros.
Sobre o Ministério Adventista das Possibilidades
O Ministério Adventista das Possibilidades baseia-se na crença de que “todos possuem talentos, são indispensáveis e têm grande valor.” Está alicerçado na convicção de que o evangelho transforma a forma como enxergamos a nós mesmos, ao próximo e a Deus.
Segundo os líderes do ministério, o trabalho do MAP não é definido como um simples programa, mas como um movimento que nos convida a enxergar, pelos olhos de um Deus amoroso, as forças e possibilidades presentes em sete grupos específicos. Entre eles estão: pessoas surdas, pessoas cegas, aquelas com deficiências físicas, com desafios relacionados à saúde mental, órfãos e crianças em situação de vulnerabilidade, pessoas enlutadas e cuidadores.
Na Divisão Interamericana, a última década foi dedicada à conscientização, aceitação e ação. “O objetivo era integrar esse ministério à cultura de cada igreja local”, relataram os líderes. “Estamos felizes em ver progresso em todo o território, com muitos programas sendo implementados de forma eficaz.”
Telemaque enfatizou que cada pessoa é valiosa aos olhos de Deus. “Todos nós temos nossas feridas, e é ao ajudar os outros a curarem as deles que encontramos a verdadeira plenitude”, afirmou. Identificar os dons espirituais das pessoas com deficiências e incentivá-las a servir é fundamental para o crescimento do Ministério Adventista das Possibilidades.
Na Jamaica, a Igreja Adventista dos Surdos em Portmore está se expandindo. Na República Dominicana, um grande grupo de jovens voluntários ministra semanalmente aos surdos. No México, intérpretes voluntários capacitados atendem à população surda em todo o país.
As iniciativas do MAP requerem financiamento, e há oportunidades disponíveis por meio dos projetos de Missão Global da Associação Geral, afirmou Telemaque. No entanto, ainda há um grande desafio: a necessidade de pastores surdos.
“Os surdos preferem se comunicar com outros surdos”, explicou.
Nova Estratégia para Expandir o Ministério Adventista das Possibilidades
O décimo aniversário marcou o lançamento de uma nova estratégia centrada na empatia, integridade, conexão social e cura espiritual, com o objetivo de apoiar diferentes níveis de recuperação física.
Os líderes enfatizaram que o ministério às pessoas com deficiências é, na verdade, um ministério para todos.
“Não temos tempo a perder”, disse Telemaque. “Precisamos reconhecer as pessoas com deficiência como um grupo étnico — como os muçulmanos ou hindus — e construir ministérios nas comunidades para mostrar à sociedade, inclusive às autoridades governamentais, que a igreja se importa e busca ministrar a elas de forma integral.”
Jeovanny Barrera contribuiu com informações para este artigo.
A versão original deste artigo foi publicada no site da Divisão Interamericana. Entre no canal da ANN no WhatsApp para acompanhar as últimas notícias da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
