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Líderes Religiosos Discutem o Impacto da Tecnologia e os Desafios da Liberdade Religiosa na Jamaica

Em evento na Jamaica, painel debate desafios e oportunidades do cenário atual.

Jamaica

Lawrie Henry, Dyhann Buddoo-Fletcher e Divisão Interamericana News
Da esquerda para a direita: Mark Golding MP, líder da oposição, Nigel Coke, diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da União da Jamaica, e Dr. Andrew Holness ouvem atentamente uma apresentação durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada em 30 de janeiro de 2025, no Centro de Conferências da Jamaica, em Kingston, Jamaica.

Da esquerda para a direita: Mark Golding MP, líder da oposição, Nigel Coke, diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da União da Jamaica, e Dr. Andrew Holness ouvem atentamente uma apresentação durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada em 30 de janeiro de 2025, no Centro de Conferências da Jamaica, em Kingston, Jamaica.

[Foto: Phillip Castell]

Recentemente, os líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia discutiram a natureza paradoxal dos avanços tecnológicos e seu impacto na liberdade religiosa durante um painel na Cúpula de Liberdade Religiosa da União da Jamaica, realizada em Kingston, em 30 de janeiro de 2025.

Eles destacaram como as novas tecnologias podem tanto representar ameaças significativas quanto criar novas oportunidades. Enquanto isso, autoridades do país, incluindo o Primeiro-Ministro Andrew Holness, avaliaram os avanços e desafios da liberdade religiosa na Jamaica.

A Situação na Jamaica

Holness ressaltou que a tradição de tolerância religiosa na Jamaica é resultado de décadas de empenho para assegurar os direitos constitucionais e fomentar o respeito mútuo. No entanto, advertiu que essa cultura não deve ser considerada garantida e reconheceu que, apesar do elevado nível de tolerância religiosa, ainda existem desafios a serem enfrentados.

“Reconhecemos que, apesar das garantias constitucionais, alguns de nossos cidadãos ainda enfrentam dificuldades para praticar livremente sua fé, especialmente no ambiente de trabalho e em instituições educacionais. Temos ouvido as vozes daqueles que sentem que suas observâncias religiosas, às vezes, são mal interpretadas ou ignoradas. Essas preocupações são legítimas e, como sociedade, devemos trabalhar juntos para encontrar soluções que respeitem tanto os direitos individuais quanto as responsabilidades institucionais”, afirmou.

O Primeiro-Ministro acrescentou que a busca por liberdades deve ser equilibrada para preservar a estabilidade nacional.

"A liberdade traz responsabilidades. Muitas vezes, o diálogo sobre isso é unilateral. À medida que continuamos avançando em direção a uma sociedade baseada em direitos, o que já tem sido uma jornada significativa, também precisamos nos tornar uma sociedade responsável. O caminho para a liberdade sem responsabilidade leva ao caos.”

Holness elogiou a Igreja Adventista e outras partes interessadas pelo compromisso com um diálogo unificado, destacando que essas discussões vão além da defesa de direitos – são um dever e um exemplo para toda a nação.

Outros ministros do governo seguiram seu posicionamento, comprometendo-se a proteger a liberdade religiosa e apresentando as salvaguardas legais incorporadas em seus ministérios para garantir esse direito fundamental.

O Primeiro-Ministro Andrew Holness discute os avanços e desafios da liberdade religiosa na Jamaica durante seu discurso na Cúpula de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista, realizada em Kingston, Jamaica, em 30 de janeiro de 2025.
O Primeiro-Ministro Andrew Holness discute os avanços e desafios da liberdade religiosa na Jamaica durante seu discurso na Cúpula de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista, realizada em Kingston, Jamaica, em 30 de janeiro de 2025.

Uma Espada de Dois Gumes

O Dr. Nelu Burcea, diretor associado de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral e um dos quatro painelistas, abordou o tema “A interseção entre liberdade religiosa e novas tecnologias” durante o segmento da tarde.

“Em primeiro lugar, precisamos estar cientes de que vivemos em um mundo onde a tecnologia é uma espada de dois gumes”, afirmou Burcea. “Em alguns países, os grupos religiosos podem utilizar a tecnologia para difundir sua fé. No entanto, há casos em que a tecnologia é usada para suprimir atividades religiosas. Os governos monitoram o conteúdo religioso na internet, restringem o acesso a Bíblias digitais e interrompem reuniões virtuais.”

Vigilância Digital e Liberdade Religiosa

Brendon Coleman, vice-diretor de comunicações da União da Jamaica e moderador do painel, aprofundou as preocupações crescentes sobre a vigilância digital, destacando que diversos governos utilizam a tecnologia para monitorar práticas religiosas e restringir a liberdade de expressão.

Brendon Coleman (à direita), vice-diretor de comunicações da União da Jamaica, apresenta um painel de discussão que inclui, da esquerda para a direita: o Dr. Nelu Burcea, diretor associado de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral; Stacey Mitchell (ao centro), presidente do Conselho da Jamaica para a Fraternidade Inter-religiosa; o pastor Glen Samuels, presidente da Associação da Jamaica Ocidental em Kingston, Jamaica; e o pastor Dane Fletcher, diretor do Ministério Jovem e Universitário da União da Jamaica, durante a Cúpula de Liberdade Religiosa da igreja, em 30 de janeiro de 2025.
Brendon Coleman (à direita), vice-diretor de comunicações da União da Jamaica, apresenta um painel de discussão que inclui, da esquerda para a direita: o Dr. Nelu Burcea, diretor associado de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral; Stacey Mitchell (ao centro), presidente do Conselho da Jamaica para a Fraternidade Inter-religiosa; o pastor Glen Samuels, presidente da Associação da Jamaica Ocidental em Kingston, Jamaica; e o pastor Dane Fletcher, diretor do Ministério Jovem e Universitário da União da Jamaica, durante a Cúpula de Liberdade Religiosa da igreja, em 30 de janeiro de 2025.

“Alguns países do Oriente Médio empregam esse tipo de ferramenta para limitar as atividades das comunidades religiosas. Isso levanta uma questão crítica: como as comunidades religiosas podem proteger suas liberdades em uma era de vigilância digital?” — questionou Coleman.

“Em alguns países, não há nada que possa ser feito”, respondeu Burcea. “Como [as autoridades governamentais] fecham a internet e o acesso à biblioteca digital é perdido, torna-se praticamente impossível obter materiais religiosos digitais. Em outros países, porém, há muitas formas de proteger os dados.”

Além da vigilância, Burcea abordou as ameaças à cibersegurança, que representam outro risco para as instituições religiosas. Por exemplo, “a coleta não autorizada de dados expõe os grupos religiosos à discriminação, a fraudes financeiras e a violações de privacidade”, afirmou, acrescentando: “Os dados biométricos estão sendo cada vez mais usados de forma inadequada, e alguns governos exigem escaneamento de impressões digitais e reconhecimento facial para entrar em locais de culto, o que pode se tornar uma arma contra determinados grupos.”

O Dr. Burcea convidou o público a visitar o site do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. “Vocês ficarão surpresos ao ver todos esses detalhes e muito mais do que estou mencionando agora.”

A advogada de Kingston, Carla-Anne Roper, esclarece um ponto durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada no Centro de Conferências da Jamaica, em Kingston, Jamaica, no dia 30 de janeiro de 2025.
A advogada de Kingston, Carla-Anne Roper, esclarece um ponto durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada no Centro de Conferências da Jamaica, em Kingston, Jamaica, no dia 30 de janeiro de 2025.

Uma Igreja Sem Muros

O pastor Glen Samuels, presidente da Associação da Jamaica Ocidental, destacou o impacto transformador da tecnologia na disseminação de mensagens religiosas em escala global. “O COVID-19 abriu muitas oportunidades”, afirmou. “A tecnologia criou uma ‘igreja sem muros’, permitindo que comunidades de fé alcancem milhões de pessoas além de seu espaço físico.”

No entanto, também alertou sobre os riscos associados a esses avanços. “Embora a tecnologia permita a livre expressão da fé, ela também apresenta desafios, talvez até maiores do que as restrições tradicionais à liberdade religiosa”, advertiu. O pastor Samuels mencionou o Pegasus, um software espião desenvolvido em Israel que, segundo relatos, tem sido usado por alguns governos para monitorar e reprimir minorias religiosas. “Ele pode ser conectado remotamente a dispositivos, monitorar comunicações e gravar sem consentimento. Isso representa uma ameaça séria às liberdades religiosas.”

Um Chamado à Ação

Embora muitas regiões enfrentem restrições à liberdade religiosa, Dane Fletcher, diretor dos ministérios jovem e universitário da União da Jamaica, ressaltou a importância de ações em defesa desse direito fundamental. “Aqueles que desfrutam da liberdade religiosa não devem tomá-la como garantida”, afirmou. “Devemos usar a tecnologia para ampliar a conscientização e apoiar aqueles que enfrentam opressão.”

O advogado, Sr. Wendell Wilkins, membro da Associação Nacional de Liberdade Religiosa da Jamaica, faz uma pergunta durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada em 30 de janeiro de 2025.
O advogado, Sr. Wendell Wilkins, membro da Associação Nacional de Liberdade Religiosa da Jamaica, faz uma pergunta durante a Cúpula de Liberdade Religiosa, realizada em 30 de janeiro de 2025.

Stacey Mitchell, presidente do Conselho da Jamaica para a Fraternidade Inter-religiosa, compartilhou do mesmo sentimento. “Não podemos esperar até que a perseguição religiosa nos afete pessoalmente. Devemos advogar por outros agora, garantindo que as liberdades religiosas sejam protegidas globalmente”, afirmou.

Samuels encerrou enfatizando a necessidade de um compromisso proativo. “A democracia depende de representantes informados que defendam as liberdades, mas, sem conscientização, eles podem acabar suprimindo involuntariamente os direitos religiosos. A tecnologia deve ser usada para educar e proteger as liberdades religiosas em todo o mundo”, declarou.

A versão original deste artigo foi publicada no site da Divisão Interamericana.

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